TEXTO I
Eu queria movimento e não um curso calmo da existência. Queria excitação e perigo e a oportunidade de sacrificar-me por meu amor. Sentia em mim uma superabundância de energia que não encontrava escoadouro em nossa vida.
TOLSTÓI, L. Felicidade familiar. Apud KRAKAUER, J. Na natureza selvagem. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.
TEXTO II
Meu lema me obrigava, mais que a qualquer outro homem, a um enunciado mais exato da verdade; não sendo suficiente que eu lhe sacrificasse em tudo o meu interesse e as minhas simpatias, era preciso sacrificar-lhe também minha fraqueza e minha natureza tímida. Era preciso ter a coragem e a força de ser sempre verdadeiro em todas as ocasiões.
ROUSSEAU, J.-J. Os devaneios do caminhante solitário. Porto Alegre: L&PM, 2009.
Os textos de Tolstói e Rousseau retratam ideais da existência humana e defendem uma experiência:
A) lógico-racional, focada na objetividade, clareza e imparcialidade.
B) místico-religiosa, ligada à sacralidade, elevação e espiritualidade.
C) sociopolítica, constituída por integração, solidariedade e organização.
D) naturalista-científica, marcada pela experimentação, análise e explicação.
E) estético-romântica, caracterizada por sinceridade, vitalidade e impulsividade.

📚 Matérias Necessárias para a Solução da Questão: Filosofia Moderna, Filosofia do Romantismo, Estética, Existencialismo Pré-Moderno
📊 Nível da Questão: Médio
📝 Tema/Objetivo Geral: Identificar o ideal de existência humana presente nos textos, associando-o a correntes filosóficas ou culturais.
🎯 Gabarito: E
Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo
O enunciado apresenta dois excertos de obras literárias-filosóficas, de Tolstói e Rousseau, que expressam reflexões existenciais. O comando final nos pede para identificar a experiência de vida idealizada nesses textos, relacionando-a com uma das alternativas conceituais.
Assim, o objetivo é perceber que tipo de vivência humana está sendo defendida nos textos — se é uma vida racional, espiritual, social, científica ou emocional — e reconhecer qual dessas categorias melhor corresponde ao conteúdo apresentado.
Passo 2: Compreensão dos Textos
🔹 Texto I – Tolstói:
O eu lírico deseja uma vida com movimento, excitação, perigo e sacrifício pelo amor. Ele afirma possuir uma energia intensa que não se encaixa em uma existência calma e rotineira.
➡️ Isso reflete uma busca por intensidade emocional, paixão, entrega e autenticidade — características típicas da sensibilidade romântica.
🔹 Texto II – Rousseau:
O autor fala da exigência de viver com verdade, mesmo contra as próprias fraquezas. Defende um ideal de sinceridade plena e coragem interior, mesmo em oposição à própria natureza tímida.
➡️ Também aqui temos uma valorização da autenticidade, da verdade emocional e de uma ética interna baseada na sensibilidade e no compromisso pessoal com a expressão genuína.
Passo 3: Interpretação Filosófica dos Ideais Apresentados
Esses textos expressam um ideal de vida que valoriza a emoção intensa, a verdade interior, a sensibilidade e a espontaneidade, rejeitando a racionalidade fria ou o conformismo social. São características centrais do Romantismo, uma corrente filosófica e cultural surgida no final do século XVIII em reação ao Iluminismo racionalista.
🔎 O Romantismo preza:
- A emoção sobre a razão;
- A vivência subjetiva e intensa;
- A sinceridade e expressão individual;
- A busca por uma existência autêntica e apaixonada.
Portanto, os dois textos convergem para uma defesa da vida como experiência estética e emocional, que rompe com a frieza da objetividade racional.
Passo 4: Relação com o Contexto Histórico-Filosófico
🔸 Rousseau, embora anterior ao Romantismo, é um de seus grandes precursores, especialmente ao defender o retorno à natureza, à autenticidade e à liberdade interior. Seu pensamento influenciou diretamente o romantismo europeu e a valorização do sentimento como base ética.
🔸 Tolstói, no século XIX, também carrega elementos da sensibilidade romântica, expressando em sua literatura o drama existencial, o amor como sacrifício e a recusa de uma vida trivial e sem paixão.
Ambos autores, portanto, representam a valorização da experiência vivida como expressão sensível e sincera, própria do ideal romântico de existência.
Passo 5: Análise das Alternativas
A) lógico-racional, focada na objetividade, clareza e imparcialidade.
❌ Essa definição é mais próxima do Iluminismo ou do Racionalismo, que são negados pelo tom emocional dos textos.
B) místico-religiosa, ligada à sacralidade, elevação e espiritualidade.
❌ Embora haja certa elevação subjetiva, os textos não falam de transcendência nem de religiosidade.
C) sociopolítica, constituída por integração, solidariedade e organização.
❌ Incorreta. O foco não está em transformações sociais, mas em experiências individuais e emocionais.
D) naturalista-científica, marcada pela experimentação, análise e explicação.
❌ Nada nos textos remete à ciência ou à experimentação racional.
E) estético-romântica, caracterizada por sinceridade, vitalidade e impulsividade.
✅ É exatamente o tipo de existência defendida por Tolstói e Rousseau: sincera, intensa, emocional e autêntica.
Passo 6: Conclusão e Justificativa Final
✅ Os textos apresentados valorizam a intensidade dos sentimentos, a autenticidade do eu e o desejo por uma vida apaixonada e verdadeira, mesmo que arriscada. Essas características correspondem ao ideal estético-romântico, que afirma a subjetividade, a impulsividade e a verdade emocional como elementos centrais da existência humana. Tanto Tolstói quanto Rousseau expressam essa concepção de vida como expressão sensível e plena do indivíduo.