10 de maio
Fui na delegacia e falei com o tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse que ele era tão amavel, eu teria ido na delegacia na primeira intimação. […] O tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidade de delinquir do que tornar-se util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe disto, porque não faz
um relatorio e envia para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o Kubstchek, e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem as minhas dificuldades.
… O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome tambem é professora.
Quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças.
JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.
A partir da intimação recebida pelo filho de 9 anos, a autora faz uma reflexão em que transparece a
A) lição de vida comunicada pelo tenente.
B) predisposição materna para se emocionar.
C) atividade política marcante da comunidade.
D) resposta irônica ante o discurso da autoridade.
E) necessidade de revelar seus anseios mais íntimos.

Resolução em Texto
Matérias Necessárias para a Solução da Questão
- Interpretação de texto
Nível da Questão: Médio
Gabarito: LETRA D
Passo 1: Análise do comando e definição do objetivo
Comando: A questão solicita identificar a reflexão feita pela autora no texto, considerando a situação narrada e o contexto social em que vive.
Objetivo: Analisar como a autora reage ao discurso do tenente e como isso reflete em suas reflexões sobre sua condição e a sociedade.
Dica geral: Observe a crítica implícita na fala da autora em relação ao discurso do tenente, destacando a ironia e o contraste entre a fala dele e a realidade enfrentada por ela.
Passo 2: Análise das frases-chave do texto
“Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas têm mais possibilidade de delinquir do que tornar-se útil à pátria e ao país.”
Aqui, o tenente expressa uma visão estereotipada da favela, reforçando preconceitos em vez de propor soluções efetivas.
“Pensei: se ele sabe disto, porque não faz um relatório e envia para os políticos?”
Essa frase mostra a crítica e a ironia da autora diante da passividade da autoridade, que reconhece o problema mas nada faz para resolvê-lo.
“O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora.”
A autora reflete sobre como a experiência de quem enfrenta dificuldades reais poderia trazer empatia e mudanças para o país, destacando ainda mais a crítica às autoridades que vivem em boas condições de vida se comparado à autora.
Interpretação geral: A autora demonstra um olhar crítico sobre a postura do tenente, usando ironia para expor o descompasso entre o discurso da autoridade e as ações necessárias para enfrentar os problemas sociais.
Passo 3: Explicação dos conceitos importantes
Ironia: Figura de linguagem utilizada para expressar, de forma indireta, uma crítica ou discordância em relação a um discurso ou situação, falando o contrário do que realmente se quer dizer (“Que homem amável!” é um exemplo disso). No texto, a crítica está na ironia da autora ao fazer a pergunta retórica sobre o relatório e na sugestão de que líderes que passaram fome seriam mais capazes de governar.
Condições sociais das favelas: O texto reflete as dificuldades enfrentadas por moradores de favelas, incluindo o preconceito e a marginalização, evidenciadas na fala do tenente.
Passo 4: Análise das alternativas
A) Lição de vida comunicada pelo tenente.
Errado. Pelo contrário, o discurso do tenente é criticado pela autora por não gerar mudança positiva para a periferia da cidade, tornando-se ineficiente.
B) Predisposição materna para se emocionar.
Errado. A autora não reagiu emocionalmente devido à sua condição de mãe, mas sim de forma reflexiva e crítica, usando ironia para expor sua visão.
C) Atividade política marcante da comunidade.
Errado. O texto não destaca nenhuma ação coletiva ou política concretas realizadas pela favela.
D) Resposta irônica ante o discurso da autoridade.
Correto. A autora reage ao discurso do tenente com ironia e crítica. Ela questiona a utilidade de suas palavras e destaca o conhecimento da realidade das favelas e a ausência de ação efetiva por parte das autoridades.
E) Necessidade de revelar seus anseios mais íntimos.
Errado. O texto não reflete os desejos pessoais da autora, mas sim uma crítica irônica voltada para as condições sociais e a inércia das autoridades.
Passo 5: Conclusão e justificativa
Alternativa correta: D) Resposta irônica ante o discurso da autoridade.
A autora utiliza ironia para criticar o discurso do tenente, que aponta os problemas da favela sem propor soluções concretas. Sua reflexão evidencia a incongruência entre o conhecimento das dificuldades sociais e a falta de ações das autoridades, enfatizando a necessidade de uma liderança mais empática e conectada com a realidade.