Na sua imaginação perturbada sentia a natureza toda agitando-se para sufocá-la. Aumentavam as sombras. No céu, nuvens colossais e túmidas rolavam para o abismo do horizonte… Na várzea, ao clarão indeciso do crepúsculo, os seres tomavam ares de monstros… As montanhas, subindo ameaçadoras da terra, perfilavam-se tenebrosas… Os caminhos, espreguiçando-se sobre os campos, animavam-se quais serpentes infinitas… As árvores soltas choravam ao vento, como carpideiras fantásticas da natureza morta… Os aflitivos pássaros noturnos gemiam agouros com pios fúnebres. Maria quis fugir, mas os membros cansados não acudiam aos ímpetos do medo e deixavam-na prostrada em uma angústia desesperada.
ARANHA, J. P. G. Canaã. São Paulo: Ática, 1997.
No trecho, o narrador mobiliza recursos de linguagem que geram uma expressividade centrada na percepção da
A) relação entre a natureza opressiva e o desejo de libertação da personagem.
B) confluência entre o estado emocional da personagem e a configuração da paisagem.
C) prevalência do mundo natural em relação à fragilidade humana.
D) depreciação do sentido da vida diante da consciência da morte iminente.
E) instabilidade psicológica da personagem face à realidade hostil.

Matérias Necessárias para a Solução da Questão
- Interpretação de texto
- Recursos de linguagem expressiva
- Relação entre paisagem e psicologia das personagens
Nível da Questão: Médio.
Gabarito: Letra B.
Resolução Passo a Passo
Passo 1: Análise do Comando e Objetivo
Comando da questão: Identificar o efeito expressivo dos recursos de linguagem utilizados no trecho e sua relação com a percepção apresentada.
Objetivo: Avaliar a capacidade do estudante de interpretar como o estado emocional da personagem (Maria) é refletido ou amplificado na configuração da paisagem descrita.
⚠️Palavras-chave:
- “imaginação perturbada”
- “sombras”, “nuvens colossais”, “serpentes”, “carpideiras fantásticas”
- “confluência”, “estado emocional”, “configuração da paisagem”
Passo 2: Tradução e Interpretação do Texto
O trecho descreve a angústia de Maria por meio de uma natureza que parece ameaçadora, opressiva e cheia de elementos fantásticos. A paisagem é vista como um reflexo direto do estado psicológico da personagem, criando uma atmosfera de desespero e medo.
- Palavras como “sombras”, “ameaçadoras”, “serpentes infinitas” e “carpideiras fantásticas” indicam que a natureza não é apenas o pano de fundo, mas sim um espelho da imaginação perturbada da personagem.
- O uso de metáforas e comparações, como “os caminhos animavam-se quais serpentes infinitas”, reforça a relação entre a visão subjetiva de Maria e a paisagem apresentada.
Passo 3: Explicação de Conceitos e Conteúdos Necessários
- Patetismo ambiental: A técnica em que a paisagem reflete ou amplifica as emoções de uma personagem. Nesse caso, a angústia de Maria é representada pela descrição de uma natureza opressiva e ameaçadora.
- Personificação: Atribuição de características humanas a elementos naturais, como “árvores choravam” ou “caminhos animavam-se”. Isso intensifica o caráter emocional do texto.
- Simbolismo: A paisagem descrita não é apenas física; ela simboliza os sentimentos internos da personagem, como o medo e a angústia.
Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio
O texto combina os sentimentos internos de Maria com os elementos descritos na paisagem. A imaginação da personagem transforma o ambiente em algo quase monstruoso, onde a natureza parece viva e hostil. Essa relação direta entre o estado emocional e a configuração da paisagem é o ponto central do trecho.
Por meio de metáforas e personificações, o autor constrói um cenário que reflete a angústia de Maria, criando a ideia de que a realidade externa e os sentimentos internos estão entrelaçados. Assim, a paisagem é uma extensão do estado psicológico da personagem.
Passo 5: Análise das Alternativas
A) Relação entre a natureza opressiva e o desejo de libertação da personagem.
- Errado. Apesar de a natureza ser opressiva, o texto não aborda diretamente o desejo de libertação da personagem. O foco está na relação emocional entre Maria e a paisagem.
- Correção: Para estar certa, precisaria enfatizar explicitamente o desejo de libertação de Maria.
B) Confluência entre o estado emocional da personagem e a configuração da paisagem.
- Correto. A descrição da paisagem reflete diretamente o estado psicológico de Maria, criando a confluência entre emoção e ambiente.
C) Prevalência do mundo natural em relação à fragilidade humana.
- Errado. O texto não trata da superioridade ou prevalência do mundo natural, mas sim da interação simbólica entre a natureza e a emoção humana.
- Correção: Para estar certa, o texto precisaria enfatizar a superioridade da natureza sobre Maria.
D) Depreciação do sentido da vida diante da consciência da morte iminente.
- Errado. Não há indícios de que Maria esteja refletindo sobre o sentido da vida ou a morte iminente. O foco está em sua angústia e no reflexo emocional na paisagem.
- Correção: Para estar certa, deveria abordar explicitamente a relação entre a vida e a morte.
E) Instabilidade psicológica da personagem face à realidade hostil.
- Errado. Embora o texto aborde a angústia da personagem, não há uma “realidade hostil”. A hostilidade percebida está na imaginação de Maria e na configuração da paisagem.
- Correção: Para estar certa, a alternativa precisaria associar diretamente a hostilidade ao mundo real, e não apenas à visão subjetiva de Maria.
Passo 6: Conclusão e Justificativa Final
Conclusão:
A alternativa correta é B, pois o texto reflete a confluência entre o estado emocional perturbado de Maria e a configuração da paisagem, que é descrita de maneira opressiva e simbólica, espelhando os sentimentos da personagem.
Resumo Final:
O texto de Graça Aranha constrói uma relação simbólica entre os sentimentos internos de Maria e a paisagem descrita, reforçando a ideia de que a natureza serve como um reflexo emocional. A alternativa correta é B.