Soneto VII
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado:
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.
Eu me engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!
COSTA, C. M. Poemas. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul. 2012.
No soneto de Cláudio Manuel da Costa, a contemplação da paisagem permite ao eu lírico uma reflexão em que transparece uma
A) angústia provocada pela sensação de solidão.
B) resignação diante das mudanças do meio ambiente.
C) dúvida existencial em face do espaço desconhecido.
D) intenção de recriar o passado por meio da paisagem.
E) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra.

📚 Matérias Necessárias para a Solução da Questão
Interpretação de Texto • Estilo Literário (Arcadismo com traços Barrocos) • Figuras de Linguagem (Prosopopeia, Metáfora) • Relação entre Eu Lírico e Paisagem.
🎯 Nível da Questão: Médio.
✅ Gabarito: Letra E.
📖 Resolução Passo a Passo
🔎 Passo 1: Análise do Comando e Objetivo
A questão exige que identifiquemos a reflexão principal do eu lírico no poema e sua relação com a paisagem. O foco deve estar em como a transformação do ambiente não é apenas externa, mas subjetiva, refletindo um estado emocional.
➡ Palavras-chave:
- “Contemplação da paisagem” → O eu lírico observa a natureza ao redor.
- “Permite uma reflexão” → O que ele percebe na paisagem faz com que pense sobre si mesmo.
- “Transparece uma…” → Algo que se revela indiretamente, exigindo interpretação.
💡 Objetivo da questão: Entender que a paisagem não está simplesmente degradada, mas que essa visão vem do próprio sofrimento do eu lírico, estabelecendo um elo simbólico entre sua condição emocional e o ambiente externo.
📖 Passo 2: Explicação de Conceitos e Conteúdos Necessários
📌 Contexto literário
O poema pertence ao Arcadismo, movimento que geralmente exalta a natureza, mas aqui há uma forte influência do Barroco, perceptível pelo tom melancólico e introspectivo.
📌 Figura de linguagem principal
✔ Prosopopeia (Personificação) → A paisagem é tratada como um reflexo vivo dos sentimentos do eu lírico.
✔ Metáfora → A degeneração da natureza simboliza a deterioração emocional do sujeito poético.
📌 Tópico central do poema
A relação entre o ser humano e a natureza não é objetiva, mas subjetiva. A dor interna do eu lírico distorce sua percepção do mundo externo, levando-o a projetar sua agonia pessoal na paisagem.
📝 Passo 3: Tradução e Interpretação do Texto
O eu lírico não reconhece a paisagem onde antes encontrava beleza. Ele percebe que a natureza ao redor perdeu seu vigor, mas ao final do poema, percebe que essa mudança não é real, mas sim um reflexo de sua tristeza interior.
📌 Trechos-chave para a resolução:
➡ “Mas que venho a estranhar, se estão presentes / Meus males, com que tudo degenera!”
👉 Aqui ocorre a grande revelação: não foi a paisagem que mudou, mas sua percepção dela, contaminada pela dor interna.
✔ Interpretação central:
A deterioração da paisagem não é objetiva, mas sim um espelho do sofrimento do eu lírico. Esse recurso é comum em textos barrocos e românticos, onde a natureza reflete o estado emocional do sujeito.
🔎 Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio
📌 Como o poema constrói essa relação?
1️⃣ No início, o eu lírico está confuso: “Onde estou? Este sítio desconheço:” → Há um estranhamento, como se o mundo ao redor tivesse se transformado.
2️⃣ Em seguida, ele nota mudanças drásticas: “Tudo outra natureza tem tomado;” → A paisagem parece irreconhecível.
3️⃣ Depois, ele tenta racionalizar: “Eu me engano: a região esta não era;” → Parece aceitar que talvez tenha se confundido.
4️⃣ Finalmente, vem a conclusão: “Mas que venho a estranhar, se estão presentes / Meus males, com que tudo degenera!” → O verdadeiro problema não está fora, mas dentro dele.
✔ Resumo do raciocínio:
A paisagem não está literalmente destruída, mas sua percepção foi afetada por seus sentimentos. O eu lírico projeta sua dor interna na natureza, criando um elo emocional entre sua tristeza e a degradação do ambiente.
✅ Passo 5: Análise das Alternativas (ou Argumentos) e Resolução
🔎 Vamos avaliar cada alternativa com profundidade:
❌ (A) angústia provocada pela sensação de solidão.
🔹 Por que está errada?
O poema não foca na solidão, mas na percepção distorcida da paisagem devido ao sofrimento interno. A tristeza vem da projeção emocional, não do isolamento.
🔹 Como poderia estar certa?
Se o eu lírico falasse explicitamente sobre a ausência de pessoas ou sobre sentir-se sozinho na paisagem.
❌ (B) resignação diante das mudanças do meio ambiente.
🔹 Por que está errada?
O eu lírico não aceita passivamente as mudanças, mas se angustia com elas. Ele sente um peso emocional, e não uma aceitação tranquila.
🔹 Como poderia estar certa?
Se houvesse um tom de conformismo, como uma aceitação melancólica do tempo e da transformação natural.
❌ (C) dúvida existencial em face do espaço desconhecido.
🔹 Por que está errada?
O poema não trata de uma dúvida existencial (sobre identidade ou propósito), mas sim de uma percepção emocional da paisagem. Ele reconhece o espaço, mas vê nele a marca de seu sofrimento.
🔹 Como poderia estar certa?
Se o eu lírico questionasse sua própria existência ou identidade em relação ao ambiente.
❌ (D) intenção de recriar o passado por meio da paisagem.
🔹 Por que está errada?
O eu lírico lamenta a mudança, mas não demonstra desejo de restaurar o passado, apenas de compreendê-lo.
🔹 Como poderia estar certa?
Se houvesse um anseio explícito por reviver o que foi perdido, com verbos que indicassem desejo de reconstrução.
✅ (E) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra.
🔹 Por que está correta?
O poema constrói uma relação de simpatia emocional entre o eu lírico e a paisagem. Ele sente que sua dor transborda para o ambiente, como se a terra estivesse sofrendo junto com ele.
🏆 Passo 6: Conclusão e Justificativa Final
✔ O eu lírico não está observando uma paisagem objetiva, mas sim uma versão dela filtrada por seu próprio sofrimento.
✔ O poema reforça a ideia de que o olhar humano não é neutro: quando estamos tristes, o mundo nos parece mais cinza e sem vida.
✔ A alternativa E é a correta porque captura a essência do poema: a empatia entre o sofrimento interno do eu lírico e a “agonia” da natureza.