Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
LEMINSKI, P. Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2013.
Ao abordar o próprio processo de criação, o poeta recorre a exemplificações com o propósito de representar a escrita como uma atividade que
A) requer a criatividade do artista.
B) dispensa explicações racionais.
C) independe da curiosidade do leitor.
D) pressupõe a observação da natureza.
E) decorre da livre associação de imagens

Resolução em texto
Matérias Necessárias para a Solução da Questão: Interpretação de Texto Poético, Análise de Figuras de Linguagem, Filosofia da Arte.
Nível da Questão: Médio
Gabarito: ✅ B) dispensa explicações racionais.
Tema/Objetivo Geral: Interpretar como o eu lírico justifica (ou nega a necessidade de justificar) sua própria criação artística.
🔷 Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo
📌 Retomar o Comando da Questão:
O enunciado pergunta como o poeta representa o processo de criação textual, especificamente por meio das comparações e metáforas do poema.
📌 Explicação Detalhada:
É necessário compreender o propósito da escrita segundo o eu lírico, observando o uso de imagens que simbolizam ações instintivas e automáticas.
📌 Palavras-chave:
- “Escrevo porque preciso”
- “A aranha tece teias”
- “Tem que ter por quê?”
📌 Objetivo:
Identificar que o poema defende a escrita como algo natural, necessário, e que não precisa de justificativas racionais.
🔷 Passo 2: Explicação de Conceitos Necessários
📌 Poética de Paulo Leminski:
🔹 É marcada por liberdade criativa, espontaneidade e questionamento das convenções.
✔ Ele costuma questionar a lógica excessiva e propõe a arte como expressão do ser, do instinto, da sensibilidade.
📌 Função poética:
✔ Neste caso, a função poética da linguagem é usada para falar do próprio fazer poético (metalinguagem).
📌 Figuras de Linguagem Utilizadas:
- Metáfora: “As estrelas lembram letras no papel.”
- Comparação implícita: Aranha que tece teias, peixe que beija e morde → como se o poeta escrevesse naturalmente, como esses animais agem por instinto.
🔷 Passo 3: Tradução e Interpretação do Texto
📌 Análise do Contexto:
O poeta começa com uma afirmação direta: “Escrevo. E pronto.”
Depois, associa a escrita a uma necessidade quase biológica:
“Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto.”
📌 Frases-chave para a resolução:
- “Tem que ter por quê?”
→ Indica a rejeição da exigência de explicações. - “A aranha tece teias. O peixe beija e morde o que vê. Eu escrevo apenas.”
→ O eu lírico coloca sua ação no mesmo nível do instinto natural dos animais.
📌 Tradução interpretativa:
Escrever, para o eu lírico, é uma resposta instintiva e inevitável, não algo que precisa ser racionalmente explicado.
🔷 Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio e Cálculos
📌 Desenvolvimento da Ideia Central:
- O poeta afirma que escreve por necessidade, sem querer justificar o motivo (“Ninguém tem nada com isso”).
- Em seguida, usa imagens naturais para mostrar que escrever é tão natural quanto a aranha tecer ou o peixe morder.
- Ao final, reforça: “Tem que ter por quê?”, questionando a necessidade de justificar algo tão espontâneo.
📌 Conclusão lógica:
A escrita é retratada como impulso natural e instintivo, e não como fruto de um raciocínio lógico ou de um objetivo utilitário.
🔷 Passo 5: Análise das Alternativas e Resolução
📌 Reescrita e análise das alternativas:
- A) requer a criatividade do artista.
❌ Apesar de haver criatividade, o foco do texto não é a criatividade em si, e sim a espontaneidade e o impulso. - B) dispensa explicações racionais.
✅ Correta. O poema explicita a negação da necessidade de justificar racionalmente o ato de escrever. - C) independe da curiosidade do leitor.
❌ O poema não fala sobre a postura do leitor, mas sobre o sentido interno da escrita para o autor. - D) pressupõe a observação da natureza.
❌ A natureza é usada como comparação, não como pressuposto para escrever. - E) decorre da livre associação de imagens.
❌ O texto possui imagens, mas o foco não é a associação entre elas, e sim o motivo íntimo da escrita.
🔷 Passo 6: Conclusão e Justificativa Final
📌 Resumo do Raciocínio:
O poema de Leminski apresenta a escrita como ato natural e instintivo, dispensando qualquer explicação racional. Ao usar comparações com animais, o poeta enfatiza que escreve como uma necessidade vital, sem depender de justificativas lógicas.
📌 Reafirmação da Alternativa Correta:
✅ A alternativa correta é B) dispensa explicações racionais.
🔍 Resumo Final:
A escrita, para Leminski, é um impulso vital e natural — tão espontâneo quanto os comportamentos de uma aranha ou um peixe. O poema rejeita a ideia de que o escritor precise explicar ou racionalizar seu ato criativo, valorizando a liberdade de ser e de escrever.