Questão 09 caderno azul do ENEM 2020 PPL – Dia 1

Razão de ser

Escrevo. E pronto.

Escrevo porque preciso,

preciso porque estou tonto.

Ninguém tem nada com isso.

Escrevo porque amanhece,

E as estrelas lá no céu

Lembram letras no papel,

Quando o poema me anoitece.

A aranha tece teias.

O peixe beija e morde o que vê.

Eu escrevo apenas.

Tem que ter por quê?

LEMINSKI, P. Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2013.

Ao abordar o próprio processo de criação, o poeta recorre a exemplificações com o propósito de representar a escrita como uma atividade que

A) requer a criatividade do artista.

B) dispensa explicações racionais.

C) independe da curiosidade do leitor.

D) pressupõe a observação da natureza.

E) decorre da livre associação de imagens

Resolução em texto

Matérias Necessárias para a Solução da Questão: Interpretação de Texto Poético, Análise de Figuras de Linguagem, Filosofia da Arte.

Nível da Questão: Médio

Gabarito:B) dispensa explicações racionais.

Tema/Objetivo Geral: Interpretar como o eu lírico justifica (ou nega a necessidade de justificar) sua própria criação artística.


🔷 Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo

📌 Retomar o Comando da Questão:
O enunciado pergunta como o poeta representa o processo de criação textual, especificamente por meio das comparações e metáforas do poema.

📌 Explicação Detalhada:
É necessário compreender o propósito da escrita segundo o eu lírico, observando o uso de imagens que simbolizam ações instintivas e automáticas.

📌 Palavras-chave:

  • “Escrevo porque preciso”
  • “A aranha tece teias”
  • “Tem que ter por quê?”

📌 Objetivo:
Identificar que o poema defende a escrita como algo natural, necessário, e que não precisa de justificativas racionais.


🔷 Passo 2: Explicação de Conceitos Necessários

📌 Poética de Paulo Leminski:
🔹 É marcada por liberdade criativa, espontaneidade e questionamento das convenções.
✔ Ele costuma questionar a lógica excessiva e propõe a arte como expressão do ser, do instinto, da sensibilidade.

📌 Função poética:
✔ Neste caso, a função poética da linguagem é usada para falar do próprio fazer poético (metalinguagem).

📌 Figuras de Linguagem Utilizadas:

  • Metáfora: “As estrelas lembram letras no papel.”
  • Comparação implícita: Aranha que tece teias, peixe que beija e morde → como se o poeta escrevesse naturalmente, como esses animais agem por instinto.

🔷 Passo 3: Tradução e Interpretação do Texto

📌 Análise do Contexto:
O poeta começa com uma afirmação direta: “Escrevo. E pronto.”
Depois, associa a escrita a uma necessidade quase biológica:
“Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto.”

📌 Frases-chave para a resolução:

  • “Tem que ter por quê?”
    → Indica a rejeição da exigência de explicações.
  • “A aranha tece teias. O peixe beija e morde o que vê. Eu escrevo apenas.”
    → O eu lírico coloca sua ação no mesmo nível do instinto natural dos animais.

📌 Tradução interpretativa:
Escrever, para o eu lírico, é uma resposta instintiva e inevitável, não algo que precisa ser racionalmente explicado.


🔷 Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio e Cálculos

📌 Desenvolvimento da Ideia Central:

  1. O poeta afirma que escreve por necessidade, sem querer justificar o motivo (“Ninguém tem nada com isso”).
  2. Em seguida, usa imagens naturais para mostrar que escrever é tão natural quanto a aranha tecer ou o peixe morder.
  3. Ao final, reforça: “Tem que ter por quê?”, questionando a necessidade de justificar algo tão espontâneo.

📌 Conclusão lógica:
A escrita é retratada como impulso natural e instintivo, e não como fruto de um raciocínio lógico ou de um objetivo utilitário.


🔷 Passo 5: Análise das Alternativas e Resolução

📌 Reescrita e análise das alternativas:

  • A) requer a criatividade do artista.
    ❌ Apesar de haver criatividade, o foco do texto não é a criatividade em si, e sim a espontaneidade e o impulso.
  • B) dispensa explicações racionais.
    ✅ Correta. O poema explicita a negação da necessidade de justificar racionalmente o ato de escrever.
  • C) independe da curiosidade do leitor.
    ❌ O poema não fala sobre a postura do leitor, mas sobre o sentido interno da escrita para o autor.
  • D) pressupõe a observação da natureza.
    ❌ A natureza é usada como comparação, não como pressuposto para escrever.
  • E) decorre da livre associação de imagens.
    ❌ O texto possui imagens, mas o foco não é a associação entre elas, e sim o motivo íntimo da escrita.

🔷 Passo 6: Conclusão e Justificativa Final

📌 Resumo do Raciocínio:
O poema de Leminski apresenta a escrita como ato natural e instintivo, dispensando qualquer explicação racional. Ao usar comparações com animais, o poeta enfatiza que escreve como uma necessidade vital, sem depender de justificativas lógicas.

📌 Reafirmação da Alternativa Correta:
✅ A alternativa correta é B) dispensa explicações racionais.

🔍 Resumo Final:
A escrita, para Leminski, é um impulso vital e natural — tão espontâneo quanto os comportamentos de uma aranha ou um peixe. O poema rejeita a ideia de que o escritor precise explicar ou racionalizar seu ato criativo, valorizando a liberdade de ser e de escrever.

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