Antes que a arte polisse nossas maneiras e ensinasse nossas paixões a falarem a linguagem apurada, nossos costumes eram rústicos. Não era melhor, mas os homens encontravam sua segurança na facilidade para se reconhecerem reciprocamente, e essa vantagem, de cujo valor não temos mais a noção, poupava-lhes muitos vícios.
ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre as ciências e as artes. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (adaptado).
No presente excerto, o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) exalta uma condição que teria sido vivenciada pelo homem em qual situação?
A) No sistema monástico, pela valorização da religião.
B) Na existência em comunidade, pela comunhão de valores.
C) No modelo de autogestão, pela emancipação do sujeito.
D) No estado de natureza, pelo exercício da liberdade.
E) Na vida em sociedade, pela abundância de bens.

Resolução em texto
Matérias Necessárias para a Solução da Questão (em letras comuns, sem destaque):
Filosofia (Iluminismo), Teoria Política, Interpretação de Texto
Nível da Questão (em letras comuns, sem destaque):
Médio
Gabarito (em letras comuns, sem destaque):
D) No estado de natureza, pelo exercício da liberdade
Tema/Objetivo Geral (em letras comuns, sem destaque):
Compreender a visão de Jean-Jacques Rousseau sobre a condição anterior à sociedade refinada, em que o homem viveria de forma mais simples e autêntica, associada ao “estado de natureza”.
🔷 Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo
Comando da Questão:
“O excerto de Rousseau menciona que, antes de a arte polir nossos costumes, havia uma condição rústica, mas autêntica. Qual situação o filósofo está exaltando?”
Explicação Detalhada:
Rousseau é conhecido pelo conceito de “estado de natureza,” quando os homens eram mais livres e não corrompidos pelos artifícios da civilização. O texto fala justamente de uma época anterior à polidez e refinamento social, o que se encaixa na visão de um estágio primordial, não ainda corrompido pelos vícios da sociedade.
Palavras-chave:
- “nossos costumes eram rústicos”
- “polisse nossas maneiras”
- “facilidade para se reconhecerem reciprocamente”
Objetivo:
Mostrar que essa descrição se refere ao “estado de natureza,” onde o homem vivia de forma simples, autêntica e livre, antes dos “vícios” que a sociedade lhe impôs.
🔷 Passo 2: Explicação de Conceitos e Conteúdos Necessários
- Estado de Natureza (Rousseau):
- Situação hipotética em que o homem vivia antes de estabelecer sociedades complexas.
- Caráter de liberdade, igualdade e autenticidade.
- Diferente do estado de civilização, que Rousseau vê como fonte de corrupção e desigualdade.
- Crítica à Civilização:
- Rousseau argumenta que as artes e as ciências “aprimoram” as maneiras, mas também trazem dissimulação, vaidade e desigualdade.
- Ele exalta a rusticidade original, onde havia “facilidade para se reconhecerem reciprocamente.”
Exemplo Prático/Analogias:
- Imagine duas pessoas isoladas, que se relacionam de forma direta e transparente (sem luxos, sem convenções). Isso seria, para Rousseau, mais “verdadeiro” do que quando a sociedade desenvolve costumes refinados mas também falsos ou corrompidos.
🔷 Passo 3: Tradução e Interpretação do Texto
“Antes que a arte polisse nossas maneiras, […] nossos costumes eram rústicos. […] Os homens encontravam sua segurança na facilidade de se reconhecerem, e essa vantagem […] poupava-lhes muitos vícios.”
Conclusão Parcial:
Rousseau credita essa autenticidade e simplicidade a um estado de natureza, antes de a civilização sofisticada “corromper” as relações humanas.
🔷 Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio
- Crucial diferença: Para Rousseau, a civilização trouxe artes, ciências e polidez, mas também enganos, intrigas, desigualdade.
- Ele exalta a rusticidade de uma era sem tantas convenções, em que os homens eram livres e se compreendiam de modo mais puro.
- Isso coincide com a ideia do “bom selvagem” ou “homem natural,” que, segundo Rousseau, vivia em harmonia e sem vícios.

🔷 Passo 5: Análise das Alternativas (ou Argumentos) e Resolução
- (A) No sistema monástico, pela valorização da religião.
- “Cenário hipotético?” Se fosse um louvor à vida religiosa. Não é o foco do texto.
- (B) Na existência em comunidade, pela comunhão de valores.
- “Cenário hipotético?” Poderia ser se estivesse exaltando viver em sociedade organizada. O texto indica algo antes da “sociedade refinada.”
- (C) No modelo de autogestão, pela emancipação do sujeito.
- “Cenário hipotético?” Se fosse anarquismo ou um tipo de cooperativa. Não é o caso.
- (D) No estado de natureza, pelo exercício da liberdade.
- Cenário real: Rousseau defende a liberdade do homem “natural,” não corrompido.
- (E) Na vida em sociedade, pela abundância de bens.
- “Cenário hipotético?” Se o texto fosse elogiando a opulência social, mas não é.
Escolha Correta: D) No estado de natureza, pelo exercício da liberdade.
🔷 Passo 6: Conclusão e Justificativa Final
Resumo do Raciocínio:
O texto descreve que, antes de a arte e a civilização “lapidarem” os costumes, havia um estado rústico porém honesto, livre de vícios, o qual Rousseau chama de “estado de natureza.”
Reafirmação da Alternativa Correta:
D) No estado de natureza, pelo exercício da liberdade
Resumo Final:
Rousseau acredita que nessa condição “natural” o homem vivia com autenticidade e liberdade, sem a corrupção das convenções sociais. É esse estado que ele elogia no fragmento do “Discurso sobre as ciências e as artes.”