Questão 74 caderno azul do ENEM 2022 PPL – Dia 1

Houve uma rede de televisão brasileira que conseguiu, com ousadia e exclusividade, uma entrevista com o presidente da Líbia, logo após o bombardeio de sua casa pela aviação estadunidense, em 1986. Foi constrangedor para Kadafi e para os telespectadores ouvir as perguntas: “O que o senhor sentiu quando percebeu o bombardeio? O que o senhor sentiu quando viu sua família ameaçada? O que o senhor achou desse ato dos inimigos?”. Nenhuma pergunta sobre o significado do atentado na política e na geopolítica do Oriente Próximo; nenhuma indagação que permitisse furar o bloqueio das informações a que as agências noticiosas estadunidenses submetem a Líbia.

CHAUÍ, M. Simulacro e poder: uma análise da mídia. In: A ideologia da competência.
Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

O argumento levantado no texto é uma crítica ao papel da imprensa brasileira por

A) problematizar a narrativa dos acontecimentos históricos.

B) dissimular a parcialidade dos conteúdos midiáticos.

C) defender o partidarismo dos relatos jornalísticos.

D) julgar a visão autoritária dos discursos oficiais.

E) explorar a lógica bipolar dos eventos globais.

Resolução em texto

Matérias Necessárias para a Solução da Questão:

  • Jornalismo e Mídia
  • Sociologia da Comunicação
  • Política Internacional (Contexto EUA–Líbia)

Nível da Questão:

  • Médio

Gabarito:

  • B) dissimular a parcialidade dos conteúdos midiáticos.

🔹 Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo

📌 Comando da Questão
“O argumento levantado no texto é uma crítica ao papel da imprensa brasileira por […]?”
Deseja-se identificar como a autora (Marilena Chauí) critica a imprensa brasileira, especialmente ao analisar o caso da entrevista com o líder líbio Muammar Kadafi, após o bombardeio dos EUA em 1986.

🔹 Explicação Detalhada
O texto descreve uma situação em que a rede de TV brasileira entrevistou Kadafi, mas focou em perguntas emocionais e superficiais, deixando de abordar questões políticas e geopolíticas relevantes. Marilena Chauí critica essa postura, argumentando que a imprensa disfarça ou oculta a parcialidade na forma de conduzir a entrevista, sem questionar profundamente o contexto.

🔹 Identificação de Palavras-Chave

  • “constrangedor para Kadafi e para os telespectadores”
  • “nenhuma pergunta sobre o significado do atentado na política e na geopolítica”
  • “indagação que permitisse furar o bloqueio das informações”

🔹 Definição do Objetivo
📌 Objetivo: Verificar em qual ponto específico a imprensa falhou, segundo o texto. Concluir que se trata de dissimular a parcialidade na cobertura jornalística, não aprofundando o debate político e geopolítico.

“Agora que entendemos o comando, vamos aos conceitos e conteúdos necessários.”


🔹 Passo 2: Explicação de Conceitos e Conteúdos Necessários

📌 Conceitos Teóricos Essenciais:

  1. Parcialidade Midiática
    • Refere-se à inclinação ou viés de um veículo de imprensa que, em vez de fornecer uma cobertura neutra, privilegia certas narrativas ou omite informações relevantes.
  2. Cobertura Jornalística e Contexto Político
    • Quando a imprensa entrevista uma figura relevante (como um líder internacional), é esperado que aborde questões estratégicas, políticas e geopolíticas, indo além de perguntas emocionais.
  3. Manipulação e Bloqueio Informativo
    • A autora destaca que, ao não questionar o aspecto político e geopolítico, o veículo de comunicação reproduz uma omissão de fatos e impede o telespectador de compreender a realidade.

“Com esses conceitos em mente, vamos interpretar o texto.”


🔹 Passo 3: Tradução e Interpretação do Texto

📌 Análise do Contexto

  • O texto relata a entrevista de uma emissora de TV brasileira com Muammar Kadafi, pouco após um ataque aéreo dos EUA.
  • A entrevistadora faz perguntas superficiais sobre as reações emocionais de Kadafi, sem questionar a questão geopolítica.
  • Chauí aponta que o foco da entrevista se limitou a aspectos pessoais, deixando de lado a análise do papel dos EUA e as tensões no Oriente Médio.

🔹 Frases-Chave

  • “Nenhuma pergunta sobre o significado do atentado na política e na geopolítica.”
  • “Indagação que permitisse furar o bloqueio das informações […] não ocorreu.”

🔹 Relação com os Conteúdos
✔ Observa-se que a emissora não buscou trazer à tona a parcialidade dos interesses estadunidenses, tampouco questionou o discurso oficial de Kadafi. O texto aponta que esse modo de conduzir a entrevista mascara a real complexidade do conflito.

“Agora vamos desenvolver o raciocínio que conduz à resposta correta.”


🔹 Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio

📌 Passo a Passo:

  1. Entrevista x Conflito Político
    • Esperava-se que a emissora abordasse questões sobre a Líbia, o conflito com os EUA e a política externa.
    • Ao não fazê-lo, limitou-se a perguntas emocionais, não informando devidamente o público.
  2. Omissão e Parcialidade
    • A autora (Marilena Chauí) argumenta que essa entrevista exemplifica a tendência de a imprensa evitar certos temas políticos, o que disfarça seu alinhamento ou parcialidade.
  3. Dissimulação de Conteúdos
    • Quando não se aprofunda nas questões, a mídia “dissimula” (ou seja, oculta) a própria parcialidade, pois não se questiona criticamente a postura dos EUA nem a do governo líbio.
  4. Conclusão Parcial
    • Logo, a crítica central é: a imprensa se mostra superficial, omissa e parcial, deixando de questionar fatos importantes e de apresentar uma análise geopolítica ampla.

“Próximo passo: analisar as alternativas para confirmar essa conclusão.”


🔹 Passo 5: Análise das Alternativas e Resolução

📌 Alternativas Apresentadas:

A) problematizar a narrativa dos acontecimentos históricos.
B) dissimular a parcialidade dos conteúdos midiáticos.
C) defender o partidarismo dos relatos jornalísticos.
D) julgar a visão autoritária dos discursos oficiais.
E) explorar a lógica bipolar dos eventos globais.

🔹 Justificativa da Alternativa Correta

B) dissimular a parcialidade dos conteúdos midiáticos

  • O texto de Chauí mostra que a emissora não questionou a geopolítica, fazendo perguntas que “mascaram” a real discussão política. Isso implica omitir ou disfarçar o viés da cobertura, não expondo o bloqueio de informações.

🔹 Análise das Alternativas Incorretas

A) problematizar a narrativa dos acontecimentos históricos

  • Na verdade, a emissora não problematizou nada; limitou-se a perguntas superficiais.

C) defender o partidarismo dos relatos jornalísticos

  • O texto não sugere que a emissora defendeu abertamente um partido ou ideologia.

D) julgar a visão autoritária dos discursos oficiais

  • O texto não indica que a emissora julgou ou questionou a postura de Kadafi ou dos EUA.

E) explorar a lógica bipolar dos eventos globais

  • Não houve exploração dos polos EUA x Líbia; a emissora ignorou a questão geopolítica.

“Portanto, a melhor resposta é a alternativa B.”


🔹 Passo 6: Conclusão e Justificativa Final

📌 Resumo do Raciocínio

  • Marilena Chauí critica a cobertura jornalística que, em vez de investigar e questionar a fundo o contexto geopolítico, limita-se a perguntas emocionais, ocultando sua parcialidade.
  • Isso impede que se esclareçam os fatos e reproduz o bloqueio de informações.

📌 Reafirmação da Alternativa Correta

  • B) dissimular a parcialidade dos conteúdos midiáticos.

🔍 Resumo Final
A questão aponta para a forma como a imprensa brasileira, segundo Chauí, esconde ou disfarça seu viés ao não explorar o debate político e geopolítico de um fato tão importante, demonstrando a “dissimulação da parcialidade”. Assim, a alternativa B é a correta.

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