Questão 54, caderno azul do ENEM 2023 – DIA 1

Eu poderia concluir que a raiva é um pensamento, que estar com raiva é pensar que alguém é detestável, e que esse pensamento, como todos os outros — assim como Descartes o mostrou —, não poderia residir em nenhum fragmento de matéria. A raiva seria, portanto, espírito. Porém, quando me volto para minha própria experiência da raiva, devo confessar que ela não estava fora do meu corpo, mas inexplicavelmente nele.

MERLEAU-PONTY, M. Quinta conversa: o homem visto de fora. São Paulo: Martins Fontes, 1948 (adaptado).

No que se refere ao problema do corpo, a filosofia cartesiana apresenta-se como contraponto ao entendimento expresso no texto por

a) apresentar uma visão dualista.

b) confirmar uma tese naturalista.

c) demonstrar uma premissa relativa.

d) sustentar um argumento idealista.

e) defender uma posição intencionalista.

Resolução em Texto

Matérias Necessárias para Solução da Questão:

  • Filosofia (dualismo cartesiano e filosofia existencial)
  • História da Filosofia (contexto das ideias de Descartes e MerleauPonty)
  • Interpretação de texto

Nível da Questão (ENEM): Difícil

Gabarito: A


1º Passo: Análise do Comando e Definição do Objetivo

O comando da questão pede que identifiquemos, em relação ao problema do corpo, qual é o contraponto entre a filosofia cartesiana e o entendimento expresso no texto de Merleau-Ponty.

Frase-chave do comando: “No que se refere ao problema do corpo, a filosofia cartesiana apresenta-se como contraponto ao entendimento expresso no texto.”

Objetivo: Entender como a filosofia de Descartes (filosofia cartesiana) se opõe à visão de Merleau-Ponty sobre a relação entre corpo e mente.

Dica Geral: A filosofia cartesiana de Descartes propõe uma divisão entre corpo e mente, conhecida como dualismo, enquanto Merleau-Ponty sugere que as emoções, como a raiva, estão diretamente ligadas ao corpo.


2º Passo: Análise das Frases-Chave do Texto

Agora, vamos destacar os trechos mais importantes para entender o ponto central da argumentação de Merleau-Ponty:

  • “Eu poderia concluir que a raiva é um pensamento, que estar com raiva é pensar que alguém é detestável.” o Esta frase sugere inicialmente que a raiva poderia ser um pensamento, algo puramente mental, como Descartes sugeria.
  • “Porém, quando me volto para minha própria experiência da raiva, devo confessar que ela não estava fora do meu corpo, mas inexplicavelmente nele.” o Aqui, Merleau-Ponty nega a ideia de que a raiva seja apenas algo mental e afirma que ela está conectada ao corpo de maneira inseparável.

Essência do texto: Merleau-Ponty rejeita a visão dualista de que as emoções e pensamentos estão separados do corpo. Ele acredita que sentimentos como a raiva estão inevitavelmente ligados ao corpo.


3º Passo: Explicação dos Conceitos Necessários

Vamos agora explorar os principais conceitos necessários para entender o contraponto entre Merleau-Ponty e Descartes:

  • Filosofia cartesiana (Dualismo): Descartes defendia que a mente e o corpo são duas substâncias separadas. A mente (pensamento) seria de natureza imaterial, enquanto o corpo seria material. Este conceito é conhecido como dualismo (duas naturezas separadas). o Exemplo: No dualismo cartesiano, sentimentos e pensamentos não têm relação direta com o corpo físico, eles pertencem a uma esfera imaterial.
  • Merleau-Ponty e a fenomenologia: Merleau-Ponty, um filósofo ligado à fenomenologia, acredita que a experiência humana está sempre situada no corpo. Para ele, emoções como a raiva não são apenas pensamentos, mas estão integradas ao corpo de forma que é impossível separá-las da experiência corporal.
  • Dualismo vs. Corporeidade:
    • o Dualismo (Descartes): Mente e corpo são separados. o Corporeidade (Merleau-Ponty): Não há separação entre mente e corpo; o corpo é o meio pelo qual experimentamos o mundo, e as emoções são parte dessa experiência.

4º Passo: Análise das Alternativas

Agora, vamos analisar cada alternativa e verificar qual se alinha melhor ao contraponto entre Descartes e Merleau-Ponty:

A) Apresentar uma visão dualista.

  • Análise: Esta é a alternativa correta. A filosofia cartesiana defende a separação entre corpo e mente (dualismo), enquanto Merleau-Ponty enfatiza a integração entre corpo e emoções. A visão dualista de Descartes é o contraponto direto ao entendimento de Merleau-Ponty. Conclusão: Alternativa correta.

B) Confirmar uma tese naturalista.

  • Análise: O naturalismo geralmente refere-se à ideia de que tudo pode ser explicado por fenômenos naturais, sem recorrer ao sobrenatural. Descartes, no entanto, faz uma separação entre corpo (natural) e mente (imaterial), o que não confirma uma tese naturalista. Conclusão: Alternativa incorreta.

C) Demonstrar uma premissa realista.

  • Análise: Realismo, em filosofia, está mais ligado à crença de que o mundo externo existe independentemente de nossas percepções. Descartes não está focado nessa questão no texto citado, portanto essa alternativa não se aplica. Conclusão: Alternativa incorreta.

D) Sustentar um argumento idealista.

  • Análise: Idealismo é a visão de que a realidade é fundamentalmente mental ou baseada em ideias. Embora Descartes acredite na existência da mente, ele também reconhece a existência do corpo físico, o que não se enquadra totalmente no idealismo. Conclusão: Alternativa incorreta.

E) Defender uma posição intencionalista.

  • Análise: Intencionalismo refere-se à ideia de que ações são realizadas com base em intenções conscientes. O foco da filosofia cartesiana no texto está na separação entre mente e corpo, e não na intencionalidade das ações. Conclusão: Alternativa incorreta.

5º Passo: Conclusão e Justificativa

A alternativa correta é a A) Apresentar uma visão dualista, pois a filosofia cartesiana de Descartes defende a separação entre corpo e mente, enquanto Merleau-Ponty sugere que as emoções estão integradas ao corpo, sendo uma abordagem fenomenológica que rejeita o dualismo.

Resumo Final

A questão explora o contraste entre a filosofia cartesiana, que defende um dualismo (separação entre mente e corpo), e a visão de Merleau-Ponty, que vê as emoções como parte integrante da experiência corporal. A alternativa correta é a que destaca a visão dualista de Descartes, contraposta ao entendimento fenomenológico de MerleauPonty.

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