Questão 44, caderno azul do ENEM PPL 2019

As montanhas correm agora, lá fora, umas atrás das outras, hostis e espectrais, desertas de vontades novas que as humanizem, esquecidas já dos antigos homens lendários que as povoaram e dominaram. Carregam nos seus dorsos poderosos as pequenas cidades decadentes, como uma doença aviltante e tenaz, que se aninhou para sempre em suas dobras. Não podendo matá-las de todo ou arrancá-las de si e vencer, elas resignam-se e as ocultam com sua vegetação escura e densa, que lhes serve de coberta, e resguardam o seu sonho imperial de ferro e ouro. PENNA, C. Fronteira. Rio de Janeiro: Artium, 2001.

As soluções de linguagem encontradas pelo narrador projetam uma perspectiva lírica da paisagem contemplada. Essa projeção alinha-se ao poético na medida em que:
A) explora a identidade entre o homem e a natureza.
B) reveste o inanimado de vitalidade e ressentimento.
C) congela no tempo a prosperidade de antigas cidades.
D) destaca a estética das formas e das cores da paisagem.
E) captura o sentido da ruína causada pela extração mineral.

📚 Matérias Necessárias para a Solução da Questão: Literatura e Interpretação de Texto

📊 Nível da Questão: Médio

📝Tema/Objetivo Geral: Personificação, lirismo, linguagem poética na descrição da paisagem, compreensão da construção de sentido por meio de recursos expressivos e poéticos

🎯 Gabarito: B


Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo

O enunciado quer que identifiquemos de que forma a linguagem poética do narrador projeta uma visão lírica da paisagem observada. Ou seja, o foco está em perceber como a descrição das montanhas e das cidades decadentes vai além do aspecto visual ou geográfico, sendo carregada de emoção, subjetividade e metáforas.

Assim, o objetivo da questão é reconhecer que o texto utiliza personificações e imagens simbólicas para dar vida aos elementos da natureza, conferindo-lhes sentimentos humanos como hostilidade, ressentimento e resignação — o que caracteriza uma abordagem lírico-poética da paisagem.


Passo 2: Explicação de Conceitos e Conteúdos Necessários

📌 Lirismo: é a expressão subjetiva e emocional do eu, muito comum na poesia, mas também em textos narrativos que adotam uma linguagem sensível e simbólica.

📌 Personificação: figura de linguagem que atribui qualidades humanas a seres inanimados ou abstratos, sendo uma das estratégias mais comuns para criar lirismo e expressividade.

📌 Projeção emocional na paisagem: ocorre quando o narrador transfere seus sentimentos ou visões subjetivas ao ambiente natural, humanizando-o e criando uma atmosfera simbólica.

Esses conceitos ajudam a entender como o texto constrói uma paisagem “viva”, carregada de emoções e intenções, mesmo que os elementos descritos sejam inanimados.


Passo 3: Tradução e Interpretação do Texto

O texto apresenta montanhas que “correm”, são “hostis” e “espectrais”, ou seja, não são neutras nem passivas — parecem ter intenções e uma presença ameaçadora. As pequenas cidades são descritas como uma “doença aviltante e tenaz”, metáfora que indica degradação e persistência incômoda.

As montanhas, “resignadas”, não conseguem “matar” ou “arrancar” essas cidades decadentes de seus corpos, então as ocultam com vegetação densa, como se quisessem esconder a vergonha ou a ruína. Elas “resguardam seu sonho imperial”, o que sugere memória, desejo e até tristeza.

📌 Toda essa descrição dá vida e emoção ao espaço natural e urbano — um claro uso de linguagem lírica que transforma a paisagem em personagem com alma e ressentimento.


Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio

O narrador não se limita a descrever o que vê: ele transforma a paisagem em algo vivente, melancólico e ressentido. As montanhas sofrem com as cidades, tentam resistir a elas e escondê-las, o que representa uma projeção simbólica e emocional sobre a natureza.

Esse tipo de construção é comum em descrições líricas: a natureza deixa de ser pano de fundo e passa a refletir o estado de espírito do narrador ou de uma consciência poética. Tudo isso caracteriza uma linguagem subjetiva, simbólica e fortemente expressiva — exatamente o que o enunciado quer que reconheçamos.


Passo 5: Análise das Alternativas e Resolução

A) explora a identidade entre o homem e a natureza.
❌ Incorreta. O texto não sugere uma integração harmoniosa entre homem e natureza, e sim uma relação conflituosa e de desgaste. Há ressentimento e decadência, não identidade.

B) reveste o inanimado de vitalidade e ressentimento.
✅ Correta. As montanhas e cidades ganham vida, sentimentos, intenções e até rancores — são personificadas. Isso é o que cria o tom lírico e poético da paisagem descrita.

C) congela no tempo a prosperidade de antigas cidades.
❌ Incorreta. A referência às cidades é negativa: estão decadentes, doentes, e o texto não congela sua prosperidade, mas denuncia sua permanência como algo incômodo.

D) destaca a estética das formas e das cores da paisagem.
❌ Incorreta. A descrição não tem foco nas formas e cores, mas nos sentimentos e intenções projetadas na natureza, o que a torna lírica, não pictórica.

E) captura o sentido da ruína causada pela extração mineral.
❌ Incorreta. Embora haja menção ao “sonho imperial de ferro e ouro”, o foco não é uma crítica direta à mineração, e sim à decadência e à emoção projetada na paisagem.


Passo 6: Conclusão e Justificativa Final

📌 O texto utiliza recursos expressivos, como a personificação e a metáfora, para transformar montanhas e cidades em figuras com sentimentos, vontades e ressentimentos. Isso confere à paisagem um caráter lírico, subjetivo e simbólico — marca essencial da linguagem poética empregada.

🔍 Resumo Final: A linguagem do narrador dá vida às montanhas e às cidades, atribuindo-lhes emoções humanas como ressentimento, resignação e sofrimento. Essa projeção subjetiva e simbólica caracteriza a perspectiva lírica da paisagem. Gabarito: B.

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