Questão 44, caderno azul do ENEM 2019 – DIA 1

Toca a sirene na fábrica,
e o apito como um chicote
bate na manhã nascente
e bate na tua cama 
no sono da madrugada.
Ternuras da áspera lona 
pelo corpo adolescente.
É o trabalho que te chama.
às pressas tomas o banho,
tomas teu café com pão,
tomas teu lugar no bote 
no cais do Capibaribe.
Deixas chorando na esteira,
teu filho de mãe solteira.
Levas ao lado a marmita,
contendo a mesma ração
do meio de todo o dia,
a carne-seca e o feijão.
De tudo quanto ele pede
dás só bom-dia ao patrão,
e recomeças a luta
na engrenagem da fiação.

MOTA, M . Canto ao meio. Rio de Janeiro Civilização Brasileira, 1964.

Nesse texto, a mobilização do uso padrão das formas verbais e pronominais

A) ajuda a localizar o enredo num ambiente estático.

B) auxilia na caracterização física do personagem principal.

C) acrescenta informações modificadoras às ações dos personagens.

D) alterna os tempos da narrativa, fazendo progredir as ideias do texto.

E) está a serviço do projeto poético, auxiliando na distinção dos referentes.

Resolução em Texto

Matérias Necessárias para a Solução da Questão

  • Interpretação de texto
  • Análise linguística: formas verbais e pronominais
  • Funções da linguagem

Nível da Questão Médio

Gabarito E


Passo 1: Análise do Comando e Objetivo

O comando da questão solicita que o candidato identifique o efeito gerado pela escolha das formas verbais e pronominais no texto poético.

Palavras-chave: “formas verbais e pronominais”, “a serviço do projeto poético”, “distinção dos referentes”.

Objetivo: Compreender como a variação entre 2ª pessoa e 3ª pessoa no uso dos verbos e pronomes contribui para a construção do sentido poético, diferenciando os personagens e suas relações.


Passo 2: Tradução e Interpretação do Texto

O poema descreve a rotina exaustiva de uma trabalhadora, marcada pelo trabalho na fábrica e as dificuldades sociais, como ser mãe solteira. O uso dos pronomes de 2ª pessoa (“tua”, “te”, “tomas”) conecta o leitor diretamente à perspectiva da funcionária, criando empatia e proximidade. Por outro lado, a 3ª pessoa (“ele pede”, “o patrão”) distancia o patrão, caracterizando-o como uma figura de autoridade e um antagonista simbólico no texto.

Frases-chave:

  1. “Tomas teu lugar no bote no cais do Capibaribe.”
  2. “De tudo quanto ele pede dás só bom-dia ao patrão.”
  3. “Recomeças a luta na engrenagem da fiação.”

Conclusão parcial: A alternância entre as pessoas verbais ajuda a distinguir os papéis da funcionária e do patrão, destacando a dinâmica de opressão e luta.


Passo 3: Explicação de Conceitos e Conteúdos Necessários

  1. Variação pronominal e verbal: No texto, o uso de pronomes e verbos da 2ª pessoa (“te”, “tomas”) aproxima o leitor da trabalhadora, enquanto a 3ª pessoa (“ele pede”) cria distância, reforçando a hierarquia entre os personagens.
  2. Projeto poético: A escolha das formas linguísticas não é aleatória, mas intencional, destacando a condição social e emocional da personagem principal.
  3. Distinção de referentes: A variação entre 2ª e 3ª pessoa guia o leitor na identificação dos papéis dos personagens (funcionária e patrão), reforçando a crítica social.

Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio

O poema utiliza formas verbais e pronominais de maneira intencional para criar contraste e estabelecer os papéis dos personagens. A funcionária é diretamente mencionada com pronomes de 2ª pessoa (“tua”, “te”), o que a torna o foco do texto e gera empatia com sua condição. Já o patrão, referido na 3ª pessoa (“ele pede”), é mantido à distância, caracterizado como uma figura de autoridade que impõe demandas, mas permanece ausente do sofrimento cotidiano. Esse contraste linguístico está diretamente relacionado ao projeto poético, que critica as condições de trabalho e a desigualdade social.


Passo 5: Análise das Alternativas e Resolução

A) Ajuda a localizar o enredo num ambiente estático.

  • Errada: O ambiente descrito no poema é dinâmico, representando a rotina diária da trabalhadora.

B) Auxilia na caracterização física do personagem principal.

  • Errada: O texto não descreve características físicas da funcionária; o foco está em sua rotina e relações sociais.

C) Acrescenta informações modificadoras às ações dos personagens.

  • Errada: As formas verbais e pronominais não servem para modificar ações, mas para distinguir os papéis dos personagens.

D) Alterna os tempos da narrativa, fazendo progredir as ideias do texto.

  • Errada: Embora o texto tenha progressão narrativa, a alternância entre os tempos verbais não é o foco.

E) Está a serviço do projeto poético, auxiliando na distinção dos referentes.

  • Correta: A escolha dos pronomes e verbos de 2ª pessoa para a funcionária e de 3ª pessoa para o patrão ajuda a distinguir os papéis sociais, reforçando o caráter crítico do poema.

Passo 6: Conclusão e Justificativa Final

O uso das formas verbais e pronominais no poema não é apenas funcional, mas poético, auxiliando na distinção dos personagens e reforçando a crítica social. A funcionária é tratada com proximidade, enquanto o patrão é mantido distante, representando sua posição de autoridade.

Alternativa correta: E.

Resumo Final

O texto utiliza variações de formas verbais e pronominais para distinguir os papéis dos personagens e reforçar o projeto poético. A trabalhadora é caracterizada com proximidade e empatia, enquanto o patrão é mantido à distância, simbolizando a opressão social. Alternativa correta: E.

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