Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do nosso país, os autores e os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma — usando do direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro.
BARRETO. L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 26 jun. 2012
Nessa petição da pitoresca personagem do romance de Lima Barreto, o uso da norma-padrão justifica-se pela:
a) situação social de enunciação representada.
b) divergência teórica entre gramáticos e literatos.
c) pouca representatividade das línguas indígenas.
d) atitude irônica diante da língua dos colonizadores.
e) tentativa de solicitação do documento demandado.

Resolução em Texto
Matérias Necessárias para a Solução da Questão:
- Interpretação de Texto
- Análise de Contexto
- Funções da Linguagem
- Norma-Padrão
Nível da Questão: Médio
Gabarito: Alternativa A
Resolução Passo a Passo
Passo 1: Análise do Comando e Objetivo
O enunciado apresenta um trecho do romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, onde o personagem central redige uma petição ao Congresso Nacional pedindo que o tupi-guarani seja instituído como a língua oficial do Brasil. O comando da questão quer saber o motivo pelo qual a norma-padrão é utilizada na redação do texto.
Objetivo: Identificar como a adequação ao contexto formal justifica o uso da norma-padrão.
Palavras-chave do enunciado: “uso da norma-padrão”, “petição”, “situação social de enunciação”.
Passo 2: Tradução e Interpretação do Texto
O texto traz uma situação formal: Policarpo Quaresma, personagem de Lima Barreto, redige um documento destinado ao Congresso Nacional. Nesse cenário, o uso da norma-padrão não é casual, mas essencial, uma vez que se trata de uma comunicação em ambiente oficial.
Frases-chave:
“Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público…” (contexto formal e institucional).
“Vem pedir que o Congresso Nacional decrete…” (intenção formal da petição).
Esses trechos mostram que a linguagem foi adequadamente adaptada ao contexto social de enunciação.
Passo 3: Explicação de Conceitos Necessários
- Norma-padrão: É a variante da língua usada em situações formais, como documentos oficiais, discursos públicos e textos acadêmicos.
- Situação social de enunciação: Refere-se ao contexto em que o texto é produzido, incluindo o destinatário, a intenção do autor e o meio de comunicação. No caso, o destinatário é o Congresso Nacional, e a intenção é argumentativa e formal.
- Função referencial: O foco da linguagem está na objetividade e clareza para tratar de um tema institucional.
Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio
O texto de Policarpo Quaresma emprega a norma-padrão para atender às exigências de um contexto formal. Ele utiliza a linguagem culta como forma de adequar sua mensagem ao destinatário (Congresso Nacional), uma instituição que requer seriedade e formalidade. Essa escolha linguística reforça a relevância do pedido e a seriedade da proposta, mesmo que esta seja inusitada.
Passo 5: Análise das Alternativas e Resolução
Alternativa A – Situação social de enunciação representada. (CORRETA)
A norma-padrão é justificada pelo contexto de formalidade exigido na comunicação com o Congresso Nacional. A petição requer seriedade e adequação ao meio oficial.
Alternativa B – Divergência teórica entre gramáticos e literatos. (INCORRETA)
Embora o texto mencione polêmicas sobre a língua, isso não justifica o uso da norma-padrão. A adequação ao contexto social é o ponto central. Para esta alternativa ser correta, o foco do texto deveria ser a disputa teórica.
Alternativa C – Pouca representatividade das línguas indígenas. (INCORRETA)
O texto aborda o desejo de Policarpo de valorizar o tupi-guarani, mas a norma-padrão não é usada para apontar essa representatividade. Para esta alternativa estar correta, o texto precisaria destacar a marginalização das línguas indígenas.
Alternativa D – Atitude irônica diante da língua dos colonizadores. (INCORRETA)
Embora Policarpo critique indiretamente o português, isso não é o motivo do uso da norma-padrão. Essa alternativa seria válida se a norma-padrão fosse usada para satirizar diretamente a língua portuguesa.
Alternativa E – Tentativa de solicitação do documento demandado. (INCORRETA)
A solicitação do documento é o objetivo da petição, mas o uso da norma-padrão está relacionado ao contexto formal, não à simples intenção de solicitar.
Passo 6: Conclusão e Justificativa Final
A utilização da norma-padrão por Policarpo Quaresma é plenamente justificada pela situação social de enunciação. Trata-se de uma comunicação formal direcionada a uma instituição oficial (Congresso Nacional), que exige o uso da linguagem culta para dar credibilidade ao pedido.
Resumo Final: O uso da norma-padrão no trecho analisado é uma exigência do contexto formal, e a resposta correta é A – Situação social de enunciação representada, pois reflete adequação linguística ao ambiente institucional e ao objetivo do texto.