Questão 37 caderno azul do ENEM 2022 PPL – Dia 1

A vida deveria nos oferecer um lugarzinho no rodapé da nossa história pessoal para eventuais erratas, como em tese de doutorado. Pelas vezes em que na infância e adolescência a gente foi bobo, foi ingênuo, foi indesculpavelmente romântico, cego e teimoso, devia haver uma errata possível. Como quando a gente acreditou que se fosse bonzinho ganharia aquela bicicleta; que todos os professores eram sábios e justos e todas as autoridades decentes; e quando a gente acreditou que pai e mãe eram imortais ou perfeitos.

Devia haver erratas que anulassem bobagens adultas: botei fora aquela oportunidade, não cuidei da minha grana, fui onipotente, perdi quem era tão precioso para mim, escolhi a gostosona em lugar da parceira alegre e terna; fiquei com aquele cara porque com ele seria mais divertido, mas no fundo eu não o queria como meu amigo e pai dos meus filhos. Profissionalmente não me preparei, não me preveni, não refleti, não entendi nada, tomei as piores decisões. Ah, que bom seria se essas trapalhadas pudessem ser anuladas com uma boa errata! Em geral, não podem.

Por todas as vezes que desviamos o olhar lúcido ou recolhemos o dedo denunciador, pagaremos — talvez num futuro não muito distante — um alto preço, durante um tempo incalculavelmente longo. E não haverá erratas.

LUFT, L. Errata de pé de página. Veja, n. 28, 18 jul. 2007 (adaptado).

No texto, a autora propõe o uso metafórico da errata como recurso para

A) assumir uma posição humilde diante da efemeridade da vida.

B) evitar decisões equivocadas advindas da inexperiência

C) antecipar as consequências das nossas ações.

D) promover um maior amadurecimento intelectual.

E) rever atitudes realizadas no passado.

Resolução em texto

Matérias Necessárias para a Solução da Questão:

  • Língua Portuguesa (interpretação textual, funções da linguagem, análise de intenções e recursos expressivos)

Nível da Questão:

  • Médio

Gabarito:

  • Alternativa E

Tema/Objetivo Geral (Opcional):

  • Compreender a metáfora da “errata” como um recurso que sugere a possibilidade de “corrigir” erros e atitudes passadas.

Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo

Comando da Questão
“No texto, a autora propõe o uso metafórico da errata como recurso para…”

Explicação Detalhada:
O enunciado pede que identifiquemos a finalidade do uso metafórico de “errata” no texto de Lya Luft. Precisamos descobrir, a partir da leitura do fragmento, qual é a intenção que a autora manifesta ao desejar esse “lugarzinho no rodapé” para retificar (corrigir) algo.

Identificação de Palavras-Chave:

  • “Errata”
  • “Metáfora”
  • “Corrigir erros do passado”
  • “Rever atitudes”

Definição do Objetivo:

Identificar por que a autora defende a ideia de um “recurso” (errata) que possibilite “anular” ou “corrigir” experiências e decisões passadas.


Passo 2: Explicação de Conceitos Necessários

  • Metáfora: É uma figura de linguagem em que se aplica a uma palavra ou expressão um sentido que não lhe é comum, por analogia ou semelhança.
  • Função textual: Identificar o propósito do texto — aqui, reflexivo e argumentativo — no qual a autora expõe um desejo de poder “corrigir” equívocos.
  • Conotação de “errata”: A errata, no sentido literal, é a correção de erros em publicações. Metaforicamente, indica um anseio por voltar atrás em determinadas ações e escolhas.

Passo 3: Tradução e Interpretação do Texto

Coloque-se no lugar de quem lê:
Você observa que Lya Luft menciona várias situações da infância, adolescência e vida adulta nas quais fomos “ingênuos”, “românticos” ou cometemos “bobagens”. Ela diz que seria ótimo “corrigir” esses erros, mas lamenta que, na vida real, não exista um rodapé para colocar as “erratas” de nossas ações.

  • Qual a intenção?
    Ela defende que seria maravilhoso se pudéssemos rever (ou “apagar”, “retificar”) decisões, arrependimentos e escolhas infelizes do passado, assim como fazemos ao corrigir um texto escrito.

Essencialmente:

  • A “errata” representa uma metáfora de querer consertar algo que já ocorreu, mas que não se pode mais modificar.
  • Esse desejo, porém, é inviável (“Em geral, não podem”).

Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio

  1. O que é a “errata” no contexto do texto?
    • É um recurso imaginário: corrigir erros da vida como corrigimos falhas num texto.
  2. Qual a finalidade de se ter uma errata na vida?
    • Anular escolhas ruins, apagar arrependimentos, retificar decisões.
    • Em síntese, seria “rever atitudes realizadas no passado”.
  3. O texto lamenta que isso seja possível?
    • Sim. A autora diz que não há chance de “corrigir” o passado e, portanto, assumimos as consequências.

Passo 5: Análise das Alternativas e Resolução

A) “assumir uma posição humilde diante da efemeridade da vida.”

  • O texto não fala especificamente de humildade ou efemeridade, mas de arrependimentos e correções.

B) “evitar decisões equivocadas advindas da inexperiência.”

  • A autora quer corrigir, mas ela fala de situações passadas que ocorreram, não de prevenção futura.

C) “antecipar as consequências das nossas ações.”

  • Não se trata de prever o futuro ou antecipar consequências, e sim de consertar o que foi feito.

D) “promover um maior amadurecimento intelectual.”

  • Não é esse o foco: ela não diz que a errata serve para amadurecer intelectualmente, mas para revisar erros do passado.

E) “rever atitudes realizadas no passado.”

  • É exatamente o cerne do texto: a errata seria um recurso para anular as “trapalhadas” e “bobagens” que fizemos.

Resposta Correta: Alternativa E.


Passo 6: Conclusão e Justificativa Final

Resumo do Raciocínio:

  1. O texto sugere que “erratas” na vida serviriam para corrigir erros e más decisões tomadas.
  2. Ao analisar as alternativas, concluímos que a autora deseja um recurso para “rever atitudes do passado” (alternativa E).

Reafirmação da Alternativa Correta:

E) rever atitudes realizadas no passado.

Resumo Final:
A “errata” citada por Lya Luft é uma metáfora que expressa o desejo de corrigir ações e escolhas passadas, as quais geraram arrependimentos. O texto salienta que, ao contrário de um livro ou artigo acadêmico, a vida não oferece rodapés para inserir correções, restando-nos apenas conviver com as consequências.

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