Questão 36, caderno azul ENEM 2018


O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa.
Passou um homem e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

BARROS, M. O livro das Ignorãças. Rio de Janeiro: Best Seller, 2008.

O sujeito poético questiona o uso do vocábulo “enseada” porque a

A) terminologia mencionada é incorreta.
B) nomeação minimiza a percepção subjetiva.
C) palavra é aplicada a outro espaço geográfico
D) designação atribuída ao termo é desconhecida.
E) definição modifica o significado do termo no dicionário.

Resolução em Texto

📚 Matérias Necessárias para a Solução

  • Interpretação de Texto
  • Função Poética da Linguagem
  • Denotação e Conotação

🔢 Nível da Questão

Médio

Gabarito

Alternativa B) nomeação minimiza a percepção subjetiva.

📝 Resolução Passo a Passo


🔎 Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo

O enunciado apresenta um trecho do poeta Manoel de Barros e pede que se analise por que o sujeito poético questiona o uso do termo “enseada”. Para isso, é necessário compreender como a substituição de um termo subjetivo e metafórico por um nome técnico influencia a visão do sujeito poético sobre a realidade.

Palavras-chave:

  • Enseada (palavra objetiva e técnica)
  • Cobra de vidro (imagem poética e subjetiva)
  • Empobrecer a imagem (diminuição da expressividade poética)

O objetivo da questão é avaliar o impacto da nomeação objetiva na percepção poética e subjetiva da realidade.


📖 Passo 2: Explicação de Conceitos e Conteúdos Necessários

Denotação vs. Conotação:

  • Denotação: Sentido literal, objetivo, dicionarizado. Exemplo: “enseada” é um termo técnico para um trecho do rio.
  • Conotação: Sentido subjetivo, poético, simbólico. Exemplo: “cobra de vidro” remete a uma imagem fantasiosa e visualmente rica.

Função Poética da Linguagem:

  • Em textos literários, especialmente na poesia, a linguagem tende a ser conotativa, estimulando a imaginação e a sensibilidade.

Estilo de Manoel de Barros:

  • O autor valoriza a criatividade e o olhar infantil sobre as coisas, fugindo da rigidez da linguagem técnica.

📘Passo 3: Tradução e Interpretação do Texto

No poema, o sujeito poético enxerga o rio de maneira simbólica, como uma “cobra de vidro”, imagem que transmite fluidez, brilho e movimento. No entanto, quando um homem lhe diz que aquilo se chama “enseada”, a percepção se altera. A palavra técnica não carrega a mesma riqueza visual e emocional.

A última frase do poema — “Acho que o nome empobreceu a imagem” — confirma o desconforto do sujeito poético com a substituição do termo imaginativo por uma designação objetiva. Isso mostra a perda do encanto e do lirismo ao usar uma linguagem mais precisa, mas menos expressiva.


Passo 4: Desenvolvimento de Raciocínio

O poema reflete um conflito entre a linguagem poética e a linguagem técnica. Enquanto o sujeito poético cria uma imagem metafórica e sensível, o homem utiliza uma palavra exata e dicionarizada, que reduz a subjetividade da cena.

O uso de uma terminologia técnica transforma um elemento antes cheio de poesia em algo comum e sem a mesma força imaginativa. Esse efeito leva o sujeito poético a sentir que a palavra “enseada” empobrece sua visão do rio, pois reduz sua percepção subjetiva.


🔍 Passo 5: Análise das Alternativas e Resolução

A) Terminologia mencionada é incorreta.
Errado. A palavra “enseada” é tecnicamente correta para descrever a curva do rio. O questionamento do sujeito poético não se dá por erro de nomenclatura, mas pelo impacto dessa nomeação objetiva na sua percepção sensível.

B) Nomeação minimiza a percepção subjetiva.
Correto. A substituição do termo poético “cobra de vidro” pelo técnico “enseada” retira a subjetividade e a beleza da imagem inicial, tornando a visão do rio menos expressiva.

C) Palavra é aplicada a outro espaço geográfico.
Errado. A palavra “enseada” pode se referir a formações fluviais e costeiras. O problema não é a adequação geográfica, mas a perda do lirismo.

D) Designação atribuída ao termo é desconhecida.
Errado. O sujeito poético entende o significado da palavra “enseada”, mas sente que ela não captura a riqueza sensorial da imagem anterior.

E) Definição modifica o significado do termo no dicionário.
Errado. A palavra “enseada” mantém seu significado original. O problema não é semântico, mas estilístico e emocional.


🎯 Passo 6: Conclusão e Justificativa Final

O poema ilustra o impacto da linguagem objetiva na percepção sensível do mundo. Ao nomear o rio como “enseada”, o homem reduz a beleza e a subjetividade da visão poética do sujeito, o que justifica a alternativa B como correta. O texto reforça a ideia de que a linguagem poética cria imagens mais ricas e significativas do que a terminologia técnica.






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