Questão 33 caderno azul do ENEM 2022 PPL – Dia 1

A historiografia do país demonstra que foi necessário considerável esforço do colonizador português em impor sua língua pátria em um território tão extenso. Trata-se de um fenômeno político e cultural relevante o fato de, na atualidade, a língua portuguesa ser a língua oficial e plenamente inteligível de norte a sul do país, apesar das especificidades e da grande diversidade dos chamados “sotaques” regionais. Esse empreendimento relacionado à imposição da língua portuguesa foi adotado como uma das estratégias de dominação, ocupação e demarcação das fronteiras do território nacional, sucessivamente, em praticamente todos os períodos e regimes políticos. Da Colônia ao Império, da República ao Estado Novo e daí em diante.

Tomemos como exemplo o nheengatu, uma língua baseada no tupi antigo e que foi fruto do encontro, muitas vezes belicoso e violento, entre o colonizador e as populações indígenas da costa brasileira e de grande parte da Amazônia. Foi a língua geral de comunicação no período colonial até ser banida pelo Marquês de Pombal, a partir de 1758, caindo em pleno processo de desuso e decadência a partir de então. Foram falantes de nheengatu que nominaram uma infinidade de lugares, paisagens, acidentes geográficos, rios e até cidades. Atualmente, resta um pequeno contingente de falantes dessa língua no extremo norte do país. É utilizada como língua franca em regiões como o Alto Rio Negro, sendo inclusive fator de afirmação étnica de grupos indígenas que perderam sua língua original, como os Barés, Arapaços, Baniwas e Werekenas.

Disponível em: http://desafios.ipea.gov.br. Acesso em: 20 out. 2021 (adaptado).

Da leitura do texto, depreende-se que o patrimônio linguístico brasileiro é

A) constituído por processos históricos e sociais de dominação e violência.

B) decorrente da tentativa de fusão de diferentes línguas indígenas.

C) exemplificativo da miscigenação étnica da sociedade nacional.

D) caracterizado pela diversidade de sotaques e regionalismos.

E) resultado de sucessivas ações de expansão territorial.

Resolução em texto

Matérias Necessárias para a Solução da Questão:

  • Interpretação de texto
  • História sociolinguística do Brasil
  • Processos de colonização e imposição de línguas

Nível da Questão:

  • Médio

Gabarito:

  • Alternativa A

Tema/Objetivo Geral:

  • Compreender como o patrimônio linguístico brasileiro se formou historicamente por meio de processos de colonização e violência, evidenciando o papel da imposição do português e a erradicação de línguas indígenas, como o nheengatu.

🔹 Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo

Comando da Questão: “Da leitura do texto, depreende-se que o patrimônio linguístico brasileiro é…”

Explicação Detalhada: O enunciado pede que se identifique qual das opções resume a principal conclusão que se pode extrair do texto sobre o processo histórico de formação do patrimônio linguístico brasileiro.

Identificação de Palavras-chave:

  • “historiografia do país”
  • “língua portuguesa imposta”
  • “fenômeno político e cultural”
  • “nheengatu”
  • “estratégias de dominação, ocupação e demarcação”

Definição do Objetivo:

Verificar como, segundo o texto, a imposição do português e o banimento de línguas como o nheengatu refletem um processo histórico de dominação e violência, resultando na consolidação do patrimônio linguístico brasileiro.

Dica ao Aluno:
Quando o texto menciona imposição, banimento de línguas e estratégias de ocupação territorial, pense em processos políticos e sociais de coerção que afetaram diretamente a formação linguística do país.


🔹 Passo 2: Explicação de Conceitos Necessários

  1. Patrimônio Linguístico:
    • Conjunto de línguas, dialetos e sotaques que compõem a identidade linguística de um país ou região.
    • Envolve tanto as línguas oficiais quanto as línguas minoritárias, indígenas, etc.
  2. Imposição Linguística:
    • Fenômeno em que a língua de um grupo dominante substitui ou marginaliza as línguas de grupos subalternos.
    • Geralmente envolve coerção ou legislação que suprime a língua nativa (como no caso do Marquês de Pombal com o nheengatu).
  3. Nheengatu:
    • Língua geral derivada do tupi antigo, amplamente falada no período colonial.
    • Sofreu proibição oficial e declínio, sobrevivendo hoje em regiões específicas (Alto Rio Negro, por exemplo).

Para Você, Aluno:
Perceba como o texto relaciona violência e dominação à perda de línguas nativas. Esse contexto histórico é crucial para entender a formação do português como língua oficial.


🔹 Passo 3: Tradução e Interpretação do Texto

Coloque-se no Lugar do Leitor:

  • O texto narra como a língua portuguesa foi imposta num território vasto, descrevendo isso como uma estratégia de controle.
  • Fala também do banimento do nheengatu, mostrando a “violência cultural” contra línguas indígenas.
  • Ressalta que tal imposição se manteve em diversos períodos políticos (Colônia, Império, República, Estado Novo etc.).

O que Isso Significa?

  • A consolidação do português não foi um simples processo “natural” de adoção, mas envolveu coerção, política de Estado e desprezo pelas línguas indígenas.
  • É um processo político e cultural marcado por dominação.

Conclusão Intermediária:
O texto enfatiza que o patrimônio linguístico atual (predomínio do português) decorre, em boa medida, de imposições e de ações políticas que reprimiram outras línguas.


🔹 Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio

  1. Ponto Central:
    • O texto diz: “Esse empreendimento relacionado à imposição da língua portuguesa foi… uma das estratégias de dominação…”
    • Ou seja, a formação do patrimônio linguístico está ligada à dominação.
  2. Caso do Nheengatu:
    • Língua resultante do contato com o tupi antigo.
    • Banida em 1758, caiu em desuso.
    • Mostra a força política do colonizador.
  3. Consequências:
    • O português se tornou oficial de norte a sul.
    • “Apesar das especificidades” → houve diversidade de sotaques, mas a base é a mesma: o português.
    • Isso foi “adotado como estratégia de dominação e ocupação do território.”

Ligação com as Alternativas:
Observe como a imposição se relaciona a violência cultural e política, o que se reflete na opção que menciona “processos históricos e sociais de dominação e violência.”


🔹 Passo 5: Análise das Alternativas e Resolução

A) “constituído por processos históricos e sociais de dominação e violência.”

  • Combina perfeitamente com a descrição do texto, que fala do banimento do nheengatu, a imposição do português e o uso político de tal medida.

B) “decorrente da tentativa de fusão de diferentes línguas indígenas.”

  • O texto não menciona “fusão” de línguas indígenas como fator principal, mas sim imposição do português e supressão do nheengatu.

C) “exemplificativo da miscigenação étnica da sociedade nacional.”

  • A ideia de miscigenação não é o foco. O texto destaca coerção e banimento, não miscigenação linguística.

D) “caracterizado pela diversidade de sotaques e regionalismos.”

  • Embora o texto mencione a diversidade de sotaques, não diz que esse é o ponto central de constituição do patrimônio linguístico.

E) “resultado de sucessivas ações de expansão territorial.”

  • As ações políticas de expansão foram parte do processo, mas o texto frisa a dominação e violência como fator essencial, não apenas expansão territorial.

Resposta Correta: A.


🔹 Passo 6: Conclusão e Justificativa Final

Resumo do Raciocínio:

  • O texto mostra que a oficialização do português e o declínio de línguas como o nheengatu resultam de estratégias políticas de imposição cultural.
  • Há uma forte relação entre o predomínio do português e o exercício de poder do colonizador, com banimentos, repressões e legislações que revelam violência e dominação.

Reafirmação da Alternativa Correta:

A) constituído por processos históricos e sociais de dominação e violência.

Resumo Final:

  • O texto expõe como o português se tornou hegemônico por meio de políticas de Estado que baniram línguas indígenas e impuseram a língua do colonizador, configurando um processo de dominação cultural marcado pela violência.

Mensagem ao Aluno:
Sempre busque entender como e por que uma língua se torna dominante. Na história do Brasil, a consolidação do português envolveu muito mais do que simples convivência: foi um projeto político que incluiu proibições e violência cultural contra outras línguas.

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