— Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o troço. Está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá ninguém que fale dessa forma!
Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu em seco, apanhou os cacos da sua pequenina vaidade e replicou amuado que um artista não pode escrever como fala.
— Não pode? — perguntei com assombro. E por quê? Azevedo Gondim respondeu que não pode porque não pode.
— Foi assim que sempre se fez. A literatura é a literatura, seu Paulo. A gente discute, briga, trata de negócios naturalmente, mas arranjar palavras com tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo, ninguém me lia.
RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2009.
Nesse fragmento, a discussão dos personagens traz à cena um debate acerca da escrita que
A) diferencia a produção artística do registro padrão da língua.
B) aproxima a literatura de dialetos sociais de pouco prestígio.
C) defende a relação entre a fala e o estilo literário de um autor.
D) contrapõe o preciosismo linguístico a situações de coloquialidade.
E) associa o uso da norma culta à ocorrência de desentendimentos pessoais.

Resolução em texto
Matérias Necessárias para a Solução da Questão:
- Interpretação de texto em português
- Identificação de conceitos de linguagem formal e coloquial
- Análise de debates sobre literatura e uso da linguagem
Nível da Questão: Média
Gabarito: LETRA D
1º Passo: Análise do Comando e Definição do Objetivo
O comando solicita identificar o foco principal da discussão entre os personagens no texto.
Palavras-chave do comando:
- “discussão dos personagens” → centro do conflito no diálogo.
- “debate acerca da escrita” → relação entre fala e escrita literária.
Objetivo: Identificar a alternativa que melhor expressa o debate central sobre o uso da linguagem na literatura, contrapondo o preciosismo linguístico e o uso da linguagem coloquial.
Dica Geral: Atente-se às palavras-chave dos personagens: “um artista não pode escrever como fala” e “literatura é literatura”, pois isso sinaliza o conflito entre uma linguagem formal e outra mais próxima da fala.
2º Passo: Interpretação do Texto
O diálogo entre os personagens destaca dois pontos principais:
- A crítica ao preciosismo linguístico:
- O primeiro personagem critica o uso rebuscado e artificial da linguagem, chamando-a de “idiota” e “pernóstica”, defendendo uma escrita mais natural e próxima da fala.
- A defesa do formalismo literário:
- Azevedo Gondim argumenta que “um artista não pode escrever como fala” porque isso vai contra a tradição literária. Ele acredita que a literatura deve usar uma linguagem mais elaborada, diferente do uso coloquial.
Essência do texto: O conflito revela um debate entre o preciosismo linguístico (linguagem formal e rebuscada) e a naturalidade da fala (linguagem coloquial).
3º Passo: Explicação de Conceitos Necessários
- Preciosismo linguístico:
- Uso excessivamente rebuscado e artificial da linguagem, comum em estilos literários mais antigos.
- Linguagem coloquial:
- Uso natural e espontâneo da língua, próximo da fala cotidiana, sem preocupações com formalidade.
- Contraposição formal vs coloquial:
- O debate entre escrever de forma formal ou aproximar a literatura da oralidade é recorrente na história da literatura. Muitos autores buscaram romper com a linguagem tradicional para se aproximar da realidade social.
4º Passo: Análise das Alternativas
A) Diferencia a produção artística do registro padrão da língua.
- Incorreta. A discussão não aborda diretamente o registro padrão, mas sim a contraposição entre a fala cotidiana e o preciosismo na literatura.
B) Aproxima a literatura de dialetos sociais de pouco prestígio.
- Incorreta. A crítica é sobre o uso da linguagem literária rebuscada, mas não há menção específica a dialetos sociais.
C) Defende a relação entre a fala e o estilo literário de um autor.
- Incorreta. O debate não defende essa relação; Azevedo Gondim argumenta contra o uso da fala na escrita literária.
D) Contrapõe o preciosismo linguístico a situações de coloquialidade.
- Correta. O texto traz uma contraposição clara entre o preciosismo linguístico defendido por Azevedo Gondim e o uso mais natural e coloquial defendido pelo outro personagem.
E) Associa o uso da norma culta à ocorrência de desentendimentos pessoais.
- Incorreta. O texto não discute a norma culta como causa de desentendimentos, mas sim o estilo formal da escrita literária.
5º Passo: Conclusão e Justificativa
Conclusão: A alternativa correta é D) Contrapõe o preciosismo linguístico a situações de coloquialidade, pois o texto apresenta uma crítica ao uso rebuscado da linguagem na literatura, contrapondo-o à possibilidade de usar uma linguagem mais próxima da fala cotidiana.
Resumo Final: O texto traz um debate sobre a linguagem literária, destacando a contraposição entre o preciosismo linguístico e a linguagem coloquial, representando um embate entre tradição e naturalidade na escrita.