Mas seu olhar verde, inconfundível, impressionante, iluminava com sua luz misteriosa as sombrias arcadas superciliares, que pareciam queimadas por ela, dizia logo a sua origem cruzada e decantada através das misérias e dos orgulhos de homens de aventura, contadores de histórias fantásticas, e de mulheres caladas e sofredoras que acompanhavam os maridos e amantes através das matas intermináveis, expostas às febres, às feras, às cobras do sertão indecifrável, ameaçador e sem fim, que elas percorriam com a ambição única de um “pouso” onde pudessem viver, por alguns dias, a vida ilusória de família e de lar, sempre no encalço dos homens, enfebrados pela procura do ouro e do diamante.
PENNA, C. Fronteira. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d.
Ao descrever os olhos de Maria Santa, o narrador estabelece correlações que refletem a
A) caracterização da personagem como mestiça.
B) construção do enredo de conquistas da família.
C) relação conflituosa das mulheres e seus maridos.
D) nostalgia do desejo de viver como os antepassados.
E) marca de antigos sofrimentos no fluxo de consciência

Resolução em Texto
Matérias Necessárias para a Solução da Questão
- Interpretação de texto
Nível da Questão: Difícil
Gabarito: LETRA E
Passo 1: Análise do comando e definição do objetivo
Comando: A questão pede que identifiquemos como o narrador estabelece correlações ao descrever os olhos de Maria Santa, analisando como esses elementos refletem aspectos relacionados à personagem e ao contexto narrativo.
Objetivo: Identificar a alternativa que melhor representa as correlações feitas na descrição dos olhos da personagem e sua conexão com a narrativa.
Dica geral: Concentre-se nas palavras que destacam sofrimento, passado e memória, elementos recorrentes na descrição.
Passo 2: Análise das frases-chave do texto
“Mas seu olhar verde, inconfundível, impressionante, iluminava com sua luz misteriosa as sombrias arcadas superciliares, que pareciam queimadas por ela…”
- A cor dos olhos é associada a algo único e misterioso, e a menção de “queimadas por ela” sugere marcas de experiências passadas, conectando o físico à trajetória de vida da personagem.
“dizia logo a sua origem cruzada e decantada através das misérias e dos orgulhos de homens de aventura…”
- A origem da personagem é descrita como marcada por sofrimento e experiências acumuladas por gerações.
“de mulheres caladas e sofredoras que acompanhavam os maridos e amantes através das matas intermináveis…”
- O texto conecta o sofrimento de mulheres do passado à descrição da personagem, sugerindo um fluxo de memória que carrega o peso das histórias vividas.
A descrição dos olhos da personagem é utilizada para simbolizar as experiências de dor, resiliência e histórias acumuladas de gerações, refletindo um fluxo de consciência que liga o presente ao passado.
Passo 3: Análise das alternativas
A) caracterização da personagem como mestiça.
- Errado. Apesar de Maria Santa ser mestiça, essa característica não é destacada como foco principal da descrição, o texto foca no sofrimento e as memórias do passado e não nos traços étnicos da personagem.
B) construção do enredo de conquistas da família.
- Errado. Pelo contrário, o texto menciona as dificuldades e os sofrimentos das gerações anteriores, mas não destaca conquistas ou superações específicas da família.
C) relação conflituosa das mulheres e seus maridos.
- Errado. O texto descreve as mulheres como figuras silenciosas e sofredoras que seguem seus maridos, sem menção a conflitos diretos entre eles.
D) nostalgia do desejo de viver como os antepassados.
- Errado. O texto não sugere uma saudade do passado. Na verdade, é o oposto: retrata o sofrimento e a luta das gerações passadas, sem idealizar esse modo de vida.
E) marca de antigos sofrimentos no fluxo de consciência.
- Correto. A descrição conecta a personagem às histórias de dor de gerações passadas, refletindo essas memórias e marcas em uma corrente de memórias.
Passo 4: Conclusão e justificativa
A alternativa correta é E) marca de antigos sofrimentos no fluxo de consciência.
A descrição dos olhos de Maria Santa simboliza as memórias de sofrimento e resiliência das gerações que a antecederam. Esse passado é evocado de forma intensa, conectando os traços físicos da personagem ao fluxo de memórias que ligam experiências vividas e marcas deixadas.