Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos dizem: “Que fazia Deus antes de criar
o céu e a terra? Se estava ocioso e nada realizava”, dizem eles, “por que não ficou sempre assim no decurso dos
séculos, abstendo-se, como antes, de toda ação? Se existiu em Deus um novo movimento, uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criara, como pode haver verdadeira eternidade, se n’Ele aparece uma vontade que antes não existia?”
AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor, é um exemplo da reflexão filosófica sobre a(s)
A) essência da ética cristã.
B) natureza universal da tradição.
C) certezas inabaláveis da experiência.
D) abrangência da compreensão humana.
E) interpretações da realidade circundante.

📚 Matérias Necessárias para a Solução
- Filosofia Medieval
- Metafísica
- Pensamento de Santo Agostinho
🎯 Nível da Questão: Médio
✅ Gabarito: Letra E.
📖 Resolução Passo a Passo
Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo
O enunciado apresenta um trecho das “Confissões” de Santo Agostinho, no qual ele questiona a relação entre Deus e o tempo antes da criação. A questão pede para identificar qual conceito filosófico está sendo explorado na reflexão do autor.
Palavras-chave:
- “eternidade” – refere-se ao tempo infinito e sem começo.
- “vontade nova” – implica mudança e questiona a imutabilidade de Deus.
- “ação de Deus antes da criação” – envolve uma discussão metafísica sobre o tempo e a natureza divina.
O objetivo da questão é analisar como Agostinho reflete sobre a relação entre Deus, o tempo e a criação do mundo.
Passo 2: Explicação de Conceitos e Conteúdos Necessários
Santo Agostinho foi um dos principais filósofos da Patrística, corrente filosófica que conciliava o pensamento greco-romano com a teologia cristã. Ele argumentava que Deus é eterno e está fora do tempo, pois o próprio tempo foi criado por Ele.
A questão central do texto trata da metafísica, que investiga a natureza da realidade, do ser e do tempo. Agostinho discute como o tempo tem um começo e que a eternidade de Deus não pode ser medida em termos humanos. Assim, sua reflexão trata de interpretações sobre a realidade e a natureza divina.
Passo 3: Tradução e Interpretação do Texto
O trecho retirado das “Confissões” busca compreender o que Deus fazia antes de criar o céu e a terra. A dúvida se fundamenta na ideia de que, se Deus criou o mundo em determinado momento, isso indicaria uma mudança em Sua vontade, o que poderia contradizer a noção de eternidade divina.
Santo Agostinho argumenta que a eternidade divina não pode ser compreendida em termos humanos, pois Deus existe fora do tempo. Ele busca interpretar a realidade circundante a partir de uma visão metafísica, tentando responder às dúvidas sobre o tempo, a criação e a vontade de Deus.
Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio
A reflexão de Santo Agostinho se encaixa na tradição metafísica, pois trata de questões fundamentais sobre a existência e a relação de Deus com o tempo. Ele rejeita a ideia de que Deus poderia ter mudado de vontade ou que o tempo existisse antes da criação. Para ele, Deus criou o tempo junto com o universo, e antes disso não havia “antes”, pois o próprio conceito de tempo ainda não existia.
Portanto, sua abordagem se insere nas interpretações da realidade circundante, pois busca explicar a relação entre Deus e o tempo, um tema presente não apenas no cristianismo, mas em diversas tradições filosóficas e religiosas.
Passo 5: Análise das Alternativas e Resolução
- (A) Essência da ética cristã ❌
- A ética cristã trata de princípios morais, como o bem e o mal, pecado e salvação. O texto não discute a conduta humana, mas sim questões metafísicas sobre a eternidade e a criação.
- (B) Natureza universal da tradição ❌
- O conceito de tradição envolve a transmissão de costumes e ideias ao longo do tempo. O texto, porém, não está discutindo tradições religiosas ou filosóficas, mas sim a relação entre Deus e o tempo.
- (C) Certezas inabaláveis da experiência ❌
- Experiência diz respeito ao conhecimento adquirido através dos sentidos ou da prática. A reflexão de Agostinho é abstrata e metafísica, tratando de algo além da experiência sensorial.
- (D) Abrangência da compreensão humana ❌
- A alternativa menciona o limite da compreensão humana, o que pode ter relação com o texto. No entanto, o foco principal da passagem não é sobre os limites do conhecimento, mas sobre a interpretação da realidade metafísica.
- (E) Interpretações da realidade circundante ✅
- O texto de Santo Agostinho busca compreender a natureza do tempo e a relação de Deus com ele, o que se encaixa na ideia de interpretar a realidade além do que é imediatamente perceptível.
🏆 Passo 6: Conclusão e Justificativa Final
Santo Agostinho explora a questão do tempo e da eternidade divina, analisando como a criação do mundo ocorreu e o que isso significa para a compreensão humana. Ele sugere que Deus existe fora do tempo e que o próprio tempo só passou a existir a partir da criação.
Dessa forma, a alternativa correta é E, pois o trecho reflete sobre a metafísica da criação e o papel de Deus na estrutura do tempo e da existência.
Explicação: Santo Agostinho busca interpretar a realidade metafísica da criação e da eternidade de Deus, discutindo como o tempo é uma criação divina e não algo preexistente. O texto se encaixa na categoria de interpretações da realidade circundante, pois examina a relação entre Deus, o tempo e a existência.