Questão 81, caderno azul do ENEM 2020

Porque todos confessamos não se poder viver sem alguns escravos, que busquem a lenha e a água, e façam cada dia o pão que se come, e outros serviços que não são possíveis poderem-se fazer pelos Irmãos Jesuítas, máxime sendo tão poucos, que seria necessário deixar as confissões e tudo mais. Parece-me que a Companhia de Jesus deve ter e adquirir escravos, justamente, por meios que as Constituições permitem, quando puder para nossos colégios e casas de meninos.

LEITE, S. História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938 (adaptado).

O texto explicita premissas da expansão ultramarina portuguesa ao buscar justificar a

A)  propagação do ideário cristão.

B)  valorização do trabalho braçal.

C)  adoção do cativeiro na Colônia.

D)  adesão ao ascetismo contemplativo.

E)  alfabetização dos indígenas nas Missões.

Resolução em texto

Matérias Necessárias para a Solução

  • História do Brasil Colônia
  • Escravidão
  • Missões Jesuíticas
  • Expansão Ultramarina Portuguesa

Nível da Questão: Médio – exige interpretação de texto e contextualização histórica da escravidão no Brasil Colônia.

Gabarito: LETRA C – Adoção do cativeiro na Colônia.


Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo

Comando da questão:

O comando da questão exige identificar a justificativa apresentada no texto para práticas adotadas durante a expansão ultramarina portuguesa, particularmente relacionadas à escravidão.

Palavras-chave:

  • Escravidão nas missões:
    • Refere-se à prática da Companhia de Jesus de adquirir e utilizar escravos para sustentar as atividades cotidianas nas missões religiosas.
  • Trabalho essencial:
    • Atividades básicas como buscar lenha, água e fazer pão, delegadas aos escravos por falta de disponibilidade dos missionários.
  • Justificativa colonial:
    • A naturalização da escravidão como parte indispensável do sistema econômico e social durante a expansão portuguesa.

Objetivo:

Entender como o texto justifica a utilização de escravos pela Companhia de Jesus como parte das premissas da expansão portuguesa e atividades na Colônia.


Passo 2: Tradução e Interpretação do Texto

Frases-chave do texto:

  1. “Confessamos não se poder viver sem alguns escravos”: Reconhece a dependência da mão de obra escrava.
  2. “Serviços que não são possíveis poderem-se fazer pelos Irmãos Jesuítas”: Indica que as funções básicas eram realizadas por escravos, dada a falta de disponibilidade dos missionários.
  3. “Adquirir escravos… para colégios e casas de meninos”: Evidencia a aquisição de escravos como uma prática institucional.

Interpretação Geral:
O texto revela como a escravidão era justificada e naturalizada dentro do contexto colonial, especialmente pelas ordens religiosas. As justificativas baseavam-se na necessidade prática de manter suas instituições e na impossibilidade de realizar certas tarefas sem a presença de escravos.


Passo 3: Explicação de Conceitos e Conteúdos Necessários

  • Expansão ultramarina portuguesa:
    • Processo que envolveu a ocupação de territórios fora da Europa, como o Brasil, e foi sustentado por um modelo econômico baseado na escravidão.
  • Escravidão no Brasil Colônia:
    • Mão de obra escrava, principalmente de origem africana, foi utilizada para sustentar atividades agrícolas, extrativistas e cotidianas.
    • A escravidão era vista como essencial para a manutenção das estruturas coloniais, incluindo missões religiosas.
  • Companhia de Jesus:
    • Ordem religiosa que atuou no Brasil Colônia com o objetivo de evangelizar os povos indígenas.
    • Embora defendessem os indígenas em alguns casos, os jesuítas adotaram o cativeiro de africanos para suprir as necessidades das missões.

Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio

No contexto da expansão ultramarina portuguesa, a escravidão foi um elemento central para a sustentação das atividades coloniais, desde a agricultura até as missões religiosas. O texto justifica a adoção da escravidão como uma necessidade prática para os jesuítas, que não tinham mão de obra suficiente para realizar tarefas cotidianas, como buscar lenha e fazer pão.

Essa dependência da mão de obra escrava reflete as premissas da expansão portuguesa, que combinava interesses econômicos, religiosos e sociais para justificar a exploração e a utilização de populações escravizadas na Colônia.


Passo 5: Análise das Alternativas e Resolução

A) Propagação do ideário cristão:

  • Errada. Embora os jesuítas tenham promovido o cristianismo, o texto não aborda esse aspecto. Ele trata da justificativa para a adoção da escravidão, e não da disseminação do ideário cristão.

B) Valorização do trabalho braçal:

  • Errada. Embora o trabalho braçal seja mencionado, ele não é exaltado ou enaltecido. Pelo contrário, é delegado aos escravos, reforçando sua exploração e subjugação. Para estar correta, a alternativa deveria indicar que o texto valoriza o trabalho manual como algo digno ou central na narrativa.

C) Adoção do cativeiro na Colônia:

  • Correta. O texto descreve como a escravidão foi adotada para suprir as necessidades práticas das missões jesuíticas, justificando a prática dentro do contexto colonial. A palavra cativeiro é usada para enfatizar a condição de privação de liberdade dos indivíduos submetidos à escravidão.

D) Adesão ao ascetismo contemplativo:

  • Errada. O ascetismo contemplativo se refere a práticas de isolamento e reflexão espiritual, algo que não é abordado no texto.

E) Alfabetização dos indígenas nas Missões:

  • Errada. Embora os jesuítas tenham promovido a educação dos indígenas, o texto não menciona esse aspecto. O foco está na dependência da escravidão para manter as atividades cotidianas das missões.

Passo 6: Conclusão e Justificativa Final

A alternativa C é correta porque o texto apresenta uma justificativa direta para a adoção da escravidão na Colônia, baseada na necessidade prática de realizar tarefas essenciais nas missões religiosas. Essa prática reflete as premissas econômicas e sociais da expansão portuguesa, em que o cativeiro era um elemento estrutural.