Essa atmosfera de loucura e irrealidade, criada pela aparente ausência de propósitos, é a verdadeira cortina de ferro que esconde dos olhos do mundo todas as formas de campos de concentração. Vistos de fora, os campos e o que neles acontece só podem ser descritos com imagens extraterrenas, como se a vida fosse neles separada das finalidades deste mundo. Mais que o arame farpado, é a irrealidade dos detentos que ele confina que provoca uma crueldade tão incrível que termina levando à aceitação do extermínio como solução perfeitamente normal.
ARENDT, H. Origens do totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989 (adaptado).
A partir da análise da autora, no encontro das temporalidades históricas, evidencia-se uma crítica à naturalização do(a)
A) ideário nacional, que legitima as desigualdades sociais.
B) alienação ideológica, que justifica as ações individuais.
C) cosmologia religiosa, que sustenta as tradições hierárquicas.
D) segregação humana, que fundamenta os projetos biopolíticos.
E) enquadramento cultural, que favorece os comportamentos punitivos.

Resolução em Texto
Matérias Necessárias para a Solução
- Filosofia Política: Teoria do totalitarismo em Hannah Arendt.
- História Contemporânea: Regimes totalitários do século XX e o funcionamento dos campos de concentração.
- Sociologia: Biopolítica e controle dos corpos nas sociedades modernas.
Nível da Questão Médio.
Gabarito D
Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo
A questão pede para identificar a crítica de Hannah Arendt em relação à segregação humana e sua relação com os projetos biopolíticos.
Palavras-chave: “cortina de ferro”, “campos de concentração”, “irrealidade dos detentos”, “extermínio como solução normal”.
Objetivo: Compreender como a segregação e o controle sistemático da vida são elementos centrais no pensamento de Arendt sobre o totalitarismo.
Passo 2: Tradução e Interpretação do Texto
O trecho retirado de Origens do Totalitarismo descreve o impacto dos campos de concentração e a forma como eles desumanizam e isolam os detentos, tornando o extermínio algo normalizado.
- A “cortina de ferro” mencionada não se refere apenas a uma separação física, mas à desconexão da realidade dos prisioneiros com o resto da sociedade.
- Esse afastamento progressivo leva à naturalização do extermínio, tornando-o aceitável dentro da lógica do totalitarismo.
- Conclusão parcial: O texto evidencia a segregação humana como instrumento de controle político, algo fundamental para regimes totalitários e para a noção de biopolítica.
Passo 3: Explicação de Conceitos e Conteúdos Necessários
- Hannah Arendt e a “Banalização do Mal”
- Arendt estudou os regimes totalitários e concluiu que o mal não surge de indivíduos excepcionalmente perversos, mas da normalização de práticas desumanizantes.
- No caso dos campos de concentração, a segregação extrema levou à aceitação da violência como parte do sistema.
- Biopolítica e Controle da Vida
- Michel Foucault desenvolveu o conceito de biopolítica, que se refere ao uso do poder para controlar e regular a vida das pessoas.
- Nos regimes totalitários, esse controle é intensificado ao extremo, resultando na classificação de certos grupos como “indesejáveis”.
- Campos de Concentração e a Desumanização
- Esses locais eram utilizados para segregar, excluir e exterminar grupos considerados “perigosos” ao regime.
- O processo de desumanização levava à normalização do extermínio.
Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio
A análise de Hannah Arendt sobre o totalitarismo revela que a segregação dos detentos em campos de concentração não era apenas uma forma de aprisionamento, mas um mecanismo de controle da vida e da morte.
- Ao retirar os direitos e a identidade dessas pessoas, os regimes totalitários criavam uma nova realidade na qual o extermínio se tornava parte da “lógica do sistema”.
- Esse processo é um exemplo claro de biopolítica, pois demonstra como o Estado pode definir quais vidas são protegidas e quais podem ser eliminadas.
- Assim, a crítica de Arendt não se limita à violência explícita dos campos, mas ao processo de segregação que os torna possíveis e aceitáveis dentro da sociedade.
Passo 5: Análise das Alternativas e Resolução
A) Ideário nacional, que legitima as desigualdades sociais.
- Errada. O texto não discute a desigualdade social em um contexto nacionalista, mas sim a desumanização dos indivíduos nos campos de concentração.
B) Alienação ideológica, que justifica as ações individuais.
- Errada. A alienação pode ser um fator dentro do totalitarismo, mas o foco da crítica de Arendt está na estrutura de segregação e controle estatal sobre a vida das pessoas.
C) Cosmologia religiosa, que sustenta as tradições hierárquicas.
- Errada. O texto não faz referência a questões religiosas ou tradições hierárquicas, mas sim à exclusão sistemática de determinados grupos sociais.
D) Segregação humana, que fundamenta os projetos biopolíticos.
- Correta. O texto aponta como a segregação torna possível a normalização do extermínio e do controle totalitário da vida. Esse é um conceito central na biopolítica.
E) Enquadramento cultural, que favorece os comportamentos punitivos.
- Errada. Embora o totalitarismo imponha um comportamento punitivo, a questão não trata de cultura e sim de segregação e biopolítica.
Passo 6: Conclusão e Justificativa Final
A questão aborda a crítica de Hannah Arendt ao totalitarismo, mostrando como a segregação humana leva à normalização do extermínio dentro dessas sociedades.
A relação com a biopolítica se dá porque o Estado totalitário define quais vidas são válidas e quais podem ser eliminadas, estruturando sua política de controle da população.
Portanto, a alternativa correta é D, pois o texto trata da segregação como fundamento dos regimes totalitários e da biopolítica.
Resumo Final
A obra de Hannah Arendt evidencia que o totalitarismo não apenas elimina indivíduos, mas os desumaniza antes disso. Esse processo, realizado em campos de concentração e outras práticas autoritárias, permite que a sociedade aceite a segregação e o extermínio como algo “normal”.
Esse fenômeno está diretamente ligado à biopolítica, conceito que explica como o Estado pode controlar e definir a vida das pessoas.
Gabarito: D.