Questão 62 caderno azul do ENEM 2022 PPL – Dia 1

A velha potência de morte em que se simbolizava o poder soberano é agora, cuidadosamente, recoberta pela administração dos corpos. Aparecimento, também, nos terrenos das práticas políticas e observações econômicas, dos problemas de natalidade, longevidade, saúde pública, habitação e migração.

FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber.  Rio de Janeiro: Graal, 1988 (adaptado).

O texto aponta para a emergência, a partir de meados do século XIX, de um novo tipo de gestão da sociedade ocidental, centrado na

A) ordenação calculista das vidas.

B) exposição ostensiva das punições.

C) distribuição igualitária das riquezas.

D) supressão estratégica das fronteiras.

E) espacialização controlada das classes.

Resolução em texto

Matérias Necessárias: Sociologia (Teoria Social, especialmente Foucault), História Contemporânea.

Nível da Questão: Médio.

Gabarito: Alternativa A (ordenação calculista das vidas).

Tema/Objetivo Geral: Entender como, segundo Foucault, emerge um novo tipo de poder que passa a administrar a vida (biopolítica), substituindo a ênfase do poder soberano sobre a morte.


Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo

Enunciado Simplificado: O texto de Michel Foucault discute a substituição do poder soberano pela “administração dos corpos”. A pergunta é: “Qual o cerne desse novo tipo de gestão da sociedade, surgido no século XIX?”

Explicação Detalhada:

  • Foucault propõe que, antes, o poder soberano se expressava na capacidade de “fazer morrer ou deixar viver”.
  • No século XIX, surge uma nova forma de exercer o poder: em vez de se concentrar em punir ou matar, passa-se a administrar a vida dos indivíduos por meio de estatísticas de natalidade, expectativa de vida, saúde pública, etc.

Definição do Objetivo:

  • Precisamos identificar, entre as alternativas, qual descreve melhor essa forma de poder que controla, regula e ordena a vida das populações.

“Agora que já entendemos o que a questão pede, vamos revisar alguns conceitos fundamentais para que você possa interpretar corretamente o texto.”


Passo 2: Explicação de Conceitos Necessários

  1. Poder Soberano:
    • Modelo tradicional de poder (especialmente no Absolutismo), cujo foco era a possibilidade de o soberano tirar a vida dos súditos (poder de morte).
  2. Biopolítica (Foucault):
    • Conjunto de mecanismos de poder que, em vez de simplesmente punir ou matar, visa administrar e regular a vida dos indivíduos e das populações.
    • Surge na Idade Moderna, mas ganha força no século XIX com estatísticas e políticas públicas (saúde, habitação, mortalidade, natalidade).
  3. Ordenação Calculista das Vidas:
    • Significa que o Estado (ou o poder) passa a organizar a sociedade por meio de números, dados e políticas de otimização da vida (ex.: campanhas de vacinação, regras de urbanismo, etc.).

“Com esses conceitos, vamos ler o texto do Foucault e perceber como se aplica a essa ‘administração dos corpos’.”


Passo 3: Tradução e Interpretação do Texto

Texto (adaptado de Foucault): “A velha potência de morte em que se simbolizava o poder soberano é agora recoberta pela administração dos corpos […]. Aparecimento, também, dos problemas de natalidade, longevidade, saúde pública, habitação e migração.”

Coloque-se no Lugar do Aluno
Imagine que antes, o rei podia decidir pela sua morte ou pela sua vida. Agora, no século XIX, o Estado (por meio de leis, políticas de saúde, vigilância) monitora todos os aspectos de sua vida. Passam a existir registros de nascimento, estatísticas de quantos morrem, de quantos nascem, e tudo se torna calculável.

“Com essa visão, vamos desenvolver o raciocínio que responde à questão.”


Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio

  1. Antes: Poder soberano = “fazer morrer ou deixar viver”.
  2. Depois: Biopolítica = “fazer viver ou deixar morrer”, ou seja, a vida é alvo de intervenção e gerenciamento.
  3. Exemplos no Texto: Preocupação com natalidade, longevidade, saúde pública.
  4. Consequência: Esse poder se legitima através de dados estatísticos, vigilância e cálculo.
  5. Ligação com a Pergunta: “O texto aponta para a emergência de um novo tipo de gestão centrado em…?”
    • O item que melhor descreve esse novo modelo é a ordenação calculista das vidas, pois envolve coletar e usar dados populacionais para regular a existência das pessoas.

“Agora, vamos analisar as alternativas para verificar como cada uma se relaciona com essa ideia.”


Passo 5: Análise das Alternativas

  • A) ordenação calculista das vidas.
    • Casa perfeitamente com o conceito de biopolítica: coletar dados, gerenciar a saúde, a natalidade, etc. Esse é o cerne do que Foucault descreve como poder sobre a vida.
  • B) exposição ostensiva das punições.
    • Ao contrário, a ideia de “expor punições” está ligada ao poder soberano (execuções públicas). O texto fala de uma mudança para a administração dos corpos, não de punir publicamente.
  • C) distribuição igualitária das riquezas.
    • Foucault não está tratando de igualitarismo econômico, mas sim de gerenciamento da vida e da saúde.
  • D) supressão estratégica das fronteiras.
    • O texto não menciona nada sobre a abolição de fronteiras. Fala de políticas de controle (inclusive de migrações), mas não de abolição de fronteiras.
  • E) espacialização controlada das classes.
    • Embora haja controle de classes sociais e distribuição espacial, não é isso que o texto foca. Ele fala do controle da vida por meio de estatísticas, não de políticas habitacionais para classes específicas.

“Fica claro que a alternativa A é a que melhor traduz a ideia central do texto.”


Passo 6: Conclusão e Justificativa Final

Resumo do Raciocínio:

  • Foucault aponta para a substituição do poder soberano (matar ou deixar viver) pela biopolítica (fazer viver ou deixar morrer), ou seja, um poder que administra e calcula a vida das pessoas por meio de estatísticas (natalidade, saúde, etc.).

Reafirmação da Alternativa Correta:

  • A) ordenação calculista das vidas.

Resumo Final:

  • O texto destaca como, no século XIX, o poder passa a se manifestar pela regulação e controle da vida (biopolítica). As políticas públicas usam estatísticas para “organizar” a vida dos indivíduos, tornando a sociedade alvo de cálculo, regulação e intervenção, o que caracteriza a ordenação calculista das vidas.

“Assim, compreendemos que Foucault descreve o surgimento de um poder focado na administração e no cálculo sobre a vida humana, confirmando a resposta na alternativa A.”

Inscreva-se na
nossa newsletter!