A história conheceu dois grandes títulos para governar os homens: um que se deve à filiação humana ou divina, ou seja, a superioridade no nascimento; e outro que se deve à organização das atividades produtoras e reprodutoras da sociedade, ou seja, o poder da riqueza. As sociedades são habitualmente governadas por uma combinação desses dois títulos.
RANCIÈRE, J. O ódio à democracia. São Paulo: Boitempo, 2014.
O texto evoca duas explicações acerca da legitimidade do governo nas sociedades ocidentais. Na história recente das democracias, o fenômeno que resulta da combinação mencionada aponta a presença de
A) burocracias dos órgãos estatais.
B) corrupção nas práticas eleitorais.
C) oligarquias nas casas legislativas.
D) degradação nas estruturas fiscais.
E) fortalecimento das siglas partidárias.

Resolução em texto
Matérias Necessárias para a Solução da Questão:
- Sociologia (Teoria das Elites, Conceito de Oligarquia)
- Ciência Política (Estrutura e funcionamento das instituições democráticas, formas de poder)
Nível da Questão:
- Médio
Gabarito:
- C) oligarquias nas casas legislativas.
Tema/Objetivo Geral (Opcional):
- Compreender como, na história das democracias, a legitimidade do governo pode se sustentar em duas explicações — filiação (ascendência) e poder da riqueza — e como a combinação de ambas favorece a formação de oligarquias no interior das instituições políticas.
🔹 Passo 1: Análise do Comando e Definição do Objetivo
Comando da Questão:
“O texto evoca duas explicações acerca da legitimidade do governo nas sociedades ocidentais. Na história recente das democracias, o fenômeno que resulta da combinação mencionada aponta a presença de…”
Explicação Detalhada:
- O texto menciona que a legitimidade do governo, historicamente, se funda em duas ideias:
- Filiação humana ou divina (títulos hereditários, nobreza, hereditariedade).
- Poder da riqueza (organização das atividades produtivas e econômicas).
- A questão pergunta que fenômeno surge, na história recente das democracias, dessa combinação de poder econômico + status/ascendência (ou, em termos mais gerais, posição social).
Objetivo:
Identificar como essas duas formas de legitimidade (riqueza e superioridade de nascimento) se manifestam na atualidade, gerando um tipo de concentração de poder dentro das instituições democráticas.
🔹 Passo 2: Explicação de Conceitos Necessários
- Legitimidade do Governo: Base pela qual se aceita o poder de governar.
- Filiação Humana ou Divina (Superioridade no Nascimento): Alusão a hereditariedade ou status nobiliárquico, mas que, no mundo moderno, pode se traduzir em influência de sobrenome ou posição social.
- Poder da Riqueza: Capacidade de organizar e controlar recursos financeiros e produtivos.
- Oligarquia: Concentração de poder em um grupo restrito, muitas vezes em razão de riqueza ou status social, dentro de uma estrutura teórica democrática.
🔹 Passo 3: Tradução e Interpretação do Texto
- Análise do Contexto:
- O autor (Rancière) diz que sempre houve dois títulos para governar:
- Superioridade no nascimento.
- Poder da riqueza.
- Hoje, nas democracias, esses dois aspectos ainda estão presentes, embora formalmente tenhamos eleições.
- O autor (Rancière) diz que sempre houve dois títulos para governar:
- “Coloque-se no lugar…”
Imagine-se olhando para um Congresso Nacional, Assembleia Legislativa ou Câmara de Vereadores. Você vê grupos dominantes que reúnem tanto capital financeiro (poder da riqueza) quanto herança de influência familiar (sobra de “linhagem” ou influência social)?- Isso sugere que a combinação gera grupos restritos — elites — que dominam as instituições legislativas.
- Conclusão Provisória:
- O fenômeno que resulta é a formação de oligarquias ou “grupos restritos de poder” dentro das instituições democráticas, especialmente no legislativo.
🔹 Passo 4: Desenvolvimento do Raciocínio
- Ligação com a Teoria das Elites:
- Pareto e Mosca, ao falarem de elites, apontam como grupos dominantes combinam status (origem social) e poder econômico para manter influência política.
- Contexto Democrático Moderno:
- Mesmo com eleições, grupos com maior acesso a recursos e redes familiares tradicionais tendem a controlar cadeiras parlamentares.
- Análise do Texto e do Conceito:
- A combinação entre “riqueza” e “superioridade no nascimento” remete a uma concentração de poder típica de uma oligarquia.
🔹 Passo 5: Análise das Alternativas e Resolução
A) Burocracias dos órgãos estatais.
- O texto não discute a ascensão de burocracias profissionais ou tecnocráticas, mas sim a legitimidade baseada em riqueza e filiação.
B) Corrupção nas práticas eleitorais.
- O texto não menciona diretamente corrupção. Fala de um processo de legitimação e não de práticas ilegais.
C) Oligarquias nas casas legislativas.
- Faz sentido: a combinação de riqueza e status social tende a resultar em grupos restritos exercendo o poder, mesmo em democracias.
D) Degradação nas estruturas fiscais.
- Nada no texto aborda crise fiscal ou enfraquecimento da arrecadação.
E) Fortalecimento das siglas partidárias.
- O texto não menciona partidos, e sim grupos que unem status e poder econômico.
✅ Resposta Correta: Alternativa C.
🔹 Passo 6: Conclusão e Justificativa Final
Resumo do Raciocínio:
- A legitimidade histórica se fundamenta em status de nascimento e poder da riqueza.
- Em democracias recentes, a fusão desses fatores tende a criar elites restritas que controlam cargos políticos.
- Logo, forma-se uma oligarquia nas casas legislativas.
Reafirmação da Alternativa Correta:
C) oligarquias nas casas legislativas.
Resumo Final: O texto sugere que, embora vivamos em regimes democráticos, a combinação entre superioridade social (herdada ou simbólica) e poder econômico culmina na concentração de poder em pequenos grupos. Em outras palavras, temos a presença de oligarquias atuando nas instituições legislativas, preservando e reproduzindo seus interesses.