Questão 22, caderno azul do ENEM 2023 – DIA 1

Alguém muito recentemente cortara o mato, que na época das chuvas crescia e rodeava a casa da mãe de Ponciá Vicêncio e de Luandi. Havia também vestígios de que a terra fora revolvida, como se ali fosse plantar uma pequena roça. Luandi sorriu. A mãe devia estar bastante forte, pois ainda labutava a terra. Cantou alto uma cantiga que aprendera com o pai, quando eles trabalhavam na terra dos brancos. Era uma canção que os negros mais velhos ensinavam aos mais novos. Eles diziam ser uma cantiga de voltar, que os homens, lá na África, entoavam sempre, quando estavam regressando da pesca, da caça ou de algum lugar. O pai de Luandi, no dia em que queria agradar à mulher, costumava entoar aquela cantiga ao se aproximar de casa. Luandi não entendia as palavras do canto; sabia, porém, que era uma língua que alguns negros falavam ainda, principalmente os velhos. Era uma cantiga alegre. Luandi, além de cantar, acompanhava o ritmo batendo com as palmas das mãos em um atabaque imaginário. Estava de regresso à terra. Voltava em casa. Chegava cantando, dançando a doce e vitoriosa cantiga de regressar.

EVARISTO, C. Ponciá Vicêncio. Rio de Janeiro: Pallas, 2018.

A leitura do texto permite reconhecer a “cantiga de voltar” como patrimônio linguístico que

a) representa a memória de uma língua africana extinta.

b) exalta a rotina executada por jovens afrodescendentes.

c) preserva a ancestralidade africana por meio da tradição oral.

d) resgata a musicalidade africana por meio de palavras inteligíveis

e) remonta à tristeza dos negros mais velhos com saudade da África.

Resolução em Texto

Matérias Necessárias para Solução da Questão:

  • Interpretação de texto
  • Ancestralidade africana e tradição oral

Nível da Questão (ENEM): médio

Gabarito: letra C


1º Passo: Análise do Comando e Definição do Objetivo

O comando pede que identifiquemos como a “cantiga de voltar” é reconhecida no texto e o que ela representa enquanto patrimônio linguístico.

Frase-chave do comando: “reconhecer a ‘cantiga de voltar’ como patrimônio linguístico que.”

Objetivo: Compreender o significado da cantiga no texto e sua relação com a ancestralidade africana e a tradição oral.

Dica Geral: Atenção para as alternativas que capturam o papel da cantiga enquanto elemento de memória e conexão com a cultura africana. Alternativas que reduzem o impacto cultural ou distorcem seu significado devem ser eliminadas.


2º Passo: Interpretação do Texto

No texto, a “cantiga de voltar” carrega um significado profundo. Vamos destacar os trechos mais importantes:

  • “Era uma canção que os negros mais velhos ensinavam aos mais novos.” o Isso mostra que a cantiga é passada de geração em geração, reforçando a ideia de tradição oral.
  • “Eles diziam ser uma cantiga de voltar, que os homens, lá na África, entoavam sempre, quando estavam regressando da pesca, da caça ou de algum lugar.” o A cantiga conecta os afrodescendentes à ancestralidade africana, relembrando práticas e costumes do continente.
  • “Luandi não entendia as palavras do canto; sabia, porém, que era uma língua que alguns negros falavam ainda, principalmente os velhos.” o Mesmo que as palavras não sejam compreendidas, a cantiga mantém viva a memória da língua africana e sua musicalidade, mostrando a força do patrimônio cultural e linguístico.

Essência do texto: A cantiga simboliza a preservação da ancestralidade africana, passada de geração em geração por meio da tradição oral, conectando os descendentes de africanos às suas raízes culturais e históricas.


3º Passo: Explicação de Conceitos Necessários

Alguns conceitos importantes para compreender a questão:

  • Patrimônio linguístico: Refere-se aos elementos de uma língua que carregam valores culturais e históricos de um povo, preservados por meio da transmissão entre gerações.
  • Tradição oral: Prática de transmitir histórias, conhecimentos e cultura de geração em geração por meio da fala, músicas ou cantos. A tradição oral é essencial em sociedades onde a escrita não é o meio principal de preservação cultural.
  • Ancestralidade africana: Conexão histórica e cultural que os descendentes de africanos mantêm com suas raízes, seja por meio de costumes, músicas, idiomas ou práticas culturais.

4º Passo: Análise das Alternativas

Agora, vamos analisar cada alternativa à luz do texto:

A) Representa a memória de uma língua africana extinta.

  • O texto menciona que a cantiga usa uma língua falada por alguns negros mais velhos, mas não afirma que essa língua está extinta. Portanto, a alternativa é incorreta. Alternativa incorreta.

B) Exalta a rotina executada por jovens afrodescendentes.

  • O texto não menciona a rotina de jovens afrodescendentes. Pelo contrário, enfatiza que a cantiga conecta os afrodescendentes à cultura ancestral africana. Alternativa incorreta.

C) Preserva a ancestralidade africana por meio da tradição oral.

  • Esta é a alternativa correta. O texto mostra que a cantiga é transmitida oralmente, mantendo viva a memória da cultura africana e a conexão com a ancestralidade. Alternativa correta.

D) Resgata a musicalidade africana por meio de palavras inteligíveis.

  • O texto menciona que as palavras da cantiga não são compreendidas por Luandi, mas isso não impede que a cantiga preserve o patrimônio cultural. Portanto, a alternativa é incorreta. Alternativa incorreta.

E) Remonta à tristeza dos negros mais velhos com saudade da África.

  • Embora a cantiga remonte à África, ela não é descrita como algo triste. Pelo contrário, é apresentada como alegre e vitoriosa, representando o retorno e a reconexão. Alternativa incorreta.

5º Passo: Conclusão e Justificativa

A alternativa correta é a C) Preserva a ancestralidade africana por meio da tradição oral, pois o texto mostra que a cantiga é uma forma de manter viva a memória cultural e linguística da África, transmitindo-a de geração em geração.

Resumo Final: A “cantiga de voltar” é um patrimônio linguístico que preserva a conexão dos afrodescendentes com sua ancestralidade africana. Por meio da tradição oral, ela mantém viva a memória cultural e

histórica, mesmo quando as palavras não são compreendidas completamente.

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