Questão 11, caderno azul do ENEM 2021 – DIA 1

Sinhá

Se a dona se banhou
Eu não estava lá
Por Deus Nosso Senhor
Eu não olhei Sinhá
Estava lá na roça
Sou de olhar ninguém
Não tenho mais cobiça
Nem exergo bem

Para que me pôr no tronco
Para que me aleijar
Eu juro a vosmecê
Que nunca vi Sinhá
[…]
Por que talhar meu corpo
Eu não olhei Sinhá
Para que vosmincê
Meus olhos furar
Eu choro em iorubá
Mas oro por Jesus
Para que que vassuncê
Me tira a luz.

CHICO BUARQUE; JOÃO BOSCO. Chico. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2011 (fragmento).

No fragmento da letra da canção, o vocabulário empregado e a situação retratada são relevantes para o patrimônio linguístico e identitário do país, na medida em que

A) remetem à violência física e simbólica contra os povos escravizados.

B) valorizam as influências da cultura africana sobre a música nacional.

C) relativizam o sincretismo constitutivo das práticas religiosas brasileiras.

D) narram os infortúnios da relação amorosa entre membros de classes diferentes.

E) problematizam as diferentes visões de mundo na sociedade durante o período colonial.

Resolução em Texto

Matérias Necessárias para a Solução:

  • Literatura.
  • História do Brasil (período colonial).
  • Interpretação de texto.

Nível da Questão: Médio.

Gabarito: Letra A.


1º Passo: Análise do Comando e Definição do Objetivo

Comando da Questão:
Identificar como o vocabulário e a situação retratada na letra da canção são relevantes para o patrimônio linguístico e identitário do Brasil.

Palavras-chave:

  • “vocabulário empregado”
  • “patrimônio linguístico e identitário”
  • “violência física e simbólica”

Objetivo:
Compreender como a canção retrata aspectos históricos e culturais relacionados à escravidão no Brasil, enfatizando as marcas de violência impostas aos povos escravizados.

Dica Geral:
⚠️ Preste atenção em elementos históricos e linguísticos que denunciem desigualdades ou formas de opressão presentes no contexto da escravidão.


2º Passo: Tradução e Interpretação do Texto

  1. Vocabulário e contexto histórico:
    A letra da canção utiliza termos e expressões típicas do período colonial, como “vosmecê”, “Sinhá” e “vassuncê”, remetendo à relação de subordinação entre senhores e escravizados. O texto expõe o sofrimento físico e psicológico dos escravizados por meio de referências à violência, como “tronco”, “aleijar” e “olhos furar”.
  2. Relevância linguística:
    • O uso do iorubá, mencionado na letra (“choro em iorubá”), remete às raízes africanas dos povos escravizados, enfatizando a contribuição cultural e linguística desses povos na formação da identidade brasileira.
    • A mistura de elementos religiosos africanos e cristãos (“choro em iorubá”, “oro por Jesus”) ilustra o sincretismo religioso presente na sociedade brasileira.
  3. Mensagem central:
    A letra denuncia a brutalidade da escravidão, evidenciando a violência física (como mutilações) e simbólica (a negação da humanidade dos escravizados) que marcaram o período colonial.

Conclusão parcial:
A canção expõe a violência e a opressão sofridas pelos povos escravizados no Brasil, contribuindo para a preservação da memória histórica e do patrimônio cultural e linguístico do país.


3º Passo: Explicação de Conceitos Necessários

  • Violência física e simbólica:
    A violência física refere-se aos castigos corporais impostos aos escravizados, como mutilações e torturas. Já a violência simbólica refere-se à desumanização, à imposição de subordinação e ao apagamento cultural.
  • Patrimônio linguístico e identitário:
    Elementos que refletem a diversidade cultural e histórica de um país, como o uso de termos característicos e referências culturais que ajudam a preservar a memória coletiva.
  • Sincretismo religioso:
    Fenômeno cultural em que elementos de diferentes religiões são combinados, como no caso das práticas africanas e cristãs no Brasil.

4º Passo: Análise das Alternativas

  • A) “Remetem à violência física e simbólica contra os povos escravizados.”
    Correta. A letra expõe explicitamente a violência física (“tronco”, “aleijar”) e simbólica (a desumanização e a negação da identidade dos escravizados).
  • B) “Valorizam as influências da cultura africana sobre a música nacional.”
    Incorreta. Apesar de mencionar o iorubá, o foco da letra não é a valorização cultural, mas a denúncia da violência.
  • C) “Relativizam o sincretismo constitutivo das práticas religiosas brasileiras.”
    Incorreta. O sincretismo é mencionado, mas não é relativizado nem problematizado.
  • D) “Narram os infortúnios da relação amorosa entre membros de classes diferentes.”
    Incorreta. A letra não aborda relações amorosas, mas sim a violência estrutural da escravidão.
  • E) “Problematizam as diferentes visões de mundo na sociedade durante o período colonial.”
    Incorreta. O texto não explora visões de mundo, mas sim as condições impostas aos escravizados.

Dica Geral:
⚠️ Procure evidências claras no texto que apontem para a denúncia de injustiças e desigualdades no contexto histórico apresentado.


5º Passo: Conclusão e Justificativa Final

Conclusão:
A alternativa correta é a letra A, pois a canção ressalta a violência física e simbólica imposta aos povos escravizados, destacando aspectos históricos que são fundamentais para a compreensão da identidade brasileira.

Resumo Final:
A letra de Sinhá é uma poderosa denúncia da brutalidade da escravidão, retratando a opressão e a desumanização dos povos escravizados. Seu vocabulário e contexto histórico contribuem para preservar a memória cultural e identitária do Brasil, evidenciando a importância de refletir sobre essa herança.